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Envelhecer não é para os “fracos”

Envelhecer não é para os “fracos”

Depois da crônica da semana passada, “Oitenta!” (leia aqui), perguntaram-me se eu encarava a velhice com tranquilidade. Lembrei-me da frase “envelhecer não é para os fracos”, atribuída ora a Mae West, ora a Bette Davis. As duas eram bem atrevidas em suas manifestações, tanto que precisei fazer uma adaptação na citação. Hoje não seria politicamente correto usar a palavra original que substituí por “fracos”.

Independente da autoria, tendo a concordar. Não é fácil perceber e, principalmente, aceitar as limitações que vêm com a idade. Um dia a gente acorda e nota que já não desce os quatro lances de escadas com tanta facilidade. Se chegar ao térreo e estiver chovendo – azar – não volta para buscar o guarda-chuva. Depois, acaba trocando para um prédio com elevador. Se quando jovem virava a noite na festa e ia trabalhar lépida e fagueira na manhã seguinte – dane-se a ressaca – agora janta algo leve e bem cedinho para evitar o refluxo.

Aquelas conversas com amigos da mesma idade, além da política, filmes e livros, passam a incluir longas queixas sobre as dores na coluna. Tudo com direito à troca de dicas sobre medicamentos e exercícios. Nos encontros pode-se ver no cantinho a “ala do SUS”, como diz um amigo, falando dos resultados da última cirurgia.

Um dos maiores prazeres da vida também encontra obstáculos. Calma, estou falando sobre viajar. É preciso levar um nécessaire adicional com a medicação diária e, preventivamente, outros medicamentos para problemas que podem surgir estando fora de casa. Conversava com amigas sobre fazermos uma viagem mais longa e estava quase tudo acertado quando lembramos das doze horas de voo em poltronas estreitas. As costas doeram só de pensar. Pena que ainda não inventaram o tele-transporte como em Star Trek!, lamentei.

E as manias que vêm com a idade? Há quem carregue o próprio travesseiro até no avião. – Não durmo sem ele – explica a criatura quando alguém olha surpreso para a fronha estampada de borboletinhas

Estava terminando esta crônica quando leio uma notícia sobre minha xará, Gina Lollobrígida. Aos 95 anos, a atriz italiana vai candidatar-se a uma vaga no Senado para lutar contra o belicismo. Em entrevista ao jornal Corriere della Sera, Gina se disse “farta de ouvir os políticos falarem sem chegar a soluções”. “Enquanto tiver energia, vou usá-la para coisas importantes, principalmente para o meu país. A Itália tem problemas, quero fazer algo bom e positivo”, explicou a diva centenária sem preocupação em humilhar os reles mortais.

O que mais posso acrescentar?

Buona fortuna alle elezioni, Lollobrígida! Spero che la tua schiena non ti faccia mal quando parli al Senato, caríssima.

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MICROCONTOS

Há oitenta anos morria Madre Paulina, cujo santuário visitei há poucos dias, em Nova Trento, SC. Lembrei que sua história inspirou-me para o desafio “Grandes Mulheres”, proposto no ano passado pelo professor Robertson Frizero, mentor do grupo @literaturaminima e do Clube de Criação Literária, ao qual pertenço. Difícil descrever uma vida como a de Santa Paulina em apenas cinquenta palavras! O resultado foi esse.

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

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