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Não dá para normalizar a violência contra jornalistas

Foto: equipe da NDTV de Blumenau é hostilizada ao vivo por manifestantes / Crédito: vídeo internet. -NDTV
Foto: equipe da NDTV de Blumenau é hostilizada ao vivo por manifestantes / Crédito: vídeo internet. -NDTV

Basta! Não dá para normalizar a violência contra jornalistas e os ataques à imprensa. É necessário pacificar o país e garantir o livre exercício profissional. Não dá mais para incentivar a violência ou esconder debaixo do tapete como se nada tivesse acontecido

Não dá para normalizar a violência contra jornalista e os ataques à imprensa, especialmente se essa violência for estimulada de forma irresponsável como projeto de marketing político. Neste sentido, o atual Presidente Jair Bolsonaro (PL) alicerçou sua campanha à Presidente, e depois já na Presidência, em pelo menos 3 frentes: o antipetismo, que o fez ganhar as eleições em 2018, no combate ao comunismo, tendo Cuba e China como os principais alvos de críticas e na deslegitimação da imprensa, com ataques constantes a Globo e aos jornalistas “não alinhados”, críticos ou isentos. Na Presidência somou mais duas frentes: o negacionismo diante da pandemia e os ataques ao Superior Tribunal Federal e seus ministros. Tudo o que veio de cima ecoou na bipolarização radical do país, no “nós contra eles”.

Em 1.407 dias como presidente, Bolsonaro deu 157 declarações falsas ou distorcidas (número atualizado em 8 de novembro de 2022), segundo levantamento da Aos Fatos, agência de checagem de informação (fact-cheking). Dois exemplos isolados, mas que devem ser lembrados: o presidente atacou a jornalista Amanda Klein com referência à sua vida pessoal e, durante um debate Presidencial, também foi truculento com a Jornalista Vera Guimarães. Com frequência, durante esses quase quatro anos, ele também fez insinuações contra a Globo, Folha de São Paulo, entre outros veículos de comunicação. O fato é que o exemplo vem de cima e, ao que parece, esse comportamento hostil do Presidente com a imprensa chegou as ruas e está se refletindo na truculência com os profissionais da imprensa de seus fiéis seguidores.

Durante as manifestações, só aqui em Santa Catarina, no mínimo cinco equipes de reportagem foram hostilizadas ou agredidas nas ruas, três delas do Grupo ND, um dos maiores grupos de comunicação do Estado. Uma dessas equipes foi ameaçada de atropelamento pelos agressores, outra recebeu chutes. É necessário dar um basta nessa onda de violência. A imprensa é um dos principais pilares da democracia e esses profissionais estão no exercício de suas profissões. Não há como manter uma linha editorial a favor de um movimento que deslegitima a imprensa e expõe seus profissionais ao risco de serem hostilizados ou agredidos fisicamente.

A Associação Catarinense de Imprensa – ACI publicou nota oficial e considera inaceitáveis os episódios de intimidação registrados em diferentes pontos do estado e rechaça toda e qualquer tentativa de cerceamento à liberdade de atuação de jornalistas que cobrem as manifestações antidemocráticas em estradas catarinenses. Cabe a sociedade a solidariedade aos profissionais que forma agredidos e as suas famílias e aos agressores a consciência de que esse tipo de agressão é crime. A pacificação do país é fundamental. Não dá para compactuar maus exemplos, principalmente quando esse exemplo vem da maior autoridade máxima do país. Isso é um tiro no próprio pé dos profissionais da imprensa e na credibilidade da empresa de comunicação.

Ao jornalista cabe a função de apurar, investigar e apresentar de notícias, reportagens, entrevistas ou distribuir notícias, ou informação de interesse coletivo, funções que o qualifica e diferencia da maioria dos palpiteiros das redes sociais – porque nas redes sociais tem gente qualificada também. O problema é quando essa situação se inverte e aqueles profissionais que deveriam cumprir a função de apurar e investigar a notícia acabam distribuindo informações falsas (fake news) nos meios de comunicação em que trabalham e, neste caso, combater esse tipo de ação não se trata de ir contra a liberdade de expressão ou opinião, pois notícia falsa é mentira não informação. O combate a fake news não é censura, mas a deslegitimação do que é falso e circula livremente nas redes sociais. É necessário respeitar o marco civilizatório e preservar a democracia.

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

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