Estiagem, crise hídrica, aumento do preço da energia e agora uma nuvem de poeira que atingiu uma das áreas mais ricas e desmatadas do país, mesmo assim a relação entre o meio ambiente e a economia ainda passa longe das discussões sobre o futuro do sistema produtivo.
“Nada é tão ruim que não possa piorar” essa foi a frase dita pelo Presidente Jair Bolsonaro sobre o dólar e a inflação, mas tem validade ampliada para outros setores da economia. Em outro momento deste mesmo Governo outra frase, mas do então Ministro do Meio Ambiente Ricardo Salle defendia: o deixar passar ‘a boiada’ e ‘mudar’ regras enquanto atenção da mídia estava voltada para a Covid-19: “A oportunidade que nós temos, que a imprensa está nos dando um pouco de alívio nos outros temas, é passar as reformas infralegais de desregulamentação, simplificação, todas as reformas…”.
As duas frases, embora ditas em momentos distintos, são o prenuncio de algo que já está acontecendo. A relação do meio ambiente com a economia ainda não está na agenda positiva dos Governos e do setor empresarial, mas deveria. A crise hídrica, que leva a escassez de chuvas e coloca em cheque a produção de energia, levando o país a bandeira vermelha e o aumento de custos, consequentemente a inflação, é uma consequência direta da “boiada do Salles” e das “reformas infralegais” defendida por ele, entendida aqui como o aumento do desmatamento e das queimadas na Amazônia e os mecanismos usados para facilitar tais eventos, ou pelo menos dificultar a fiscalização para impedir que acontecessem.
Esse tipo de ação tem consequências diretas para o setor produtivo e para os consumidores, embora o nexo causal nem sempre seja exposto com clareza. O desmatamento e as queimadas na Amazônia são os responsáveis pela redução do volume de chuvas na região que produz cerca de 75% por Produto Interno Bruto – PIB e se, essa situação persistir a longo prazo, essa mesma região corre o risco de desertificação, de acordo com parecer de especialista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – Inpe. Mas os efeitos climáticos não terminam por aí: essa semana uma nuvem de poeira atingiu municípios do interior de São Paulo, uma das regiões mais ricas e desmatadas no Brasil e representa a materialização de algo que acontece com frequência no país: a negligência com as questões ambientais e os impactos diretos sobre o setor produtivo e as relações de consumo. A economia está cada vez mais entrelaçada com meio ambiente e se isso não permear as discussões e ações emregnciais o futuro do país e do PIB estará seriamente comprometido