Para quem sempre teve feijão no prato e falta de conhecimento sobre as consequências do armamento indiscriminado da população, talvez o lobby da indústria armamentista prevaleça. Os números são bem atrativos: faturamento anual aproximadamente R$ 1 bilhão e emprego de cerca de 40 mil pessoas (segundo dados da Associação Nacional da Indústria de Armas e Munições – Aniam). Mas atenção! O Brasil é o maior produtor de feijão comum do mundo. Os três estados da Região Sul concentram cerca de 96,0% produção nacional de feijão Preto (segundo dados da Embrapa) e o feijão é comida obrigatória na cesta básica do brasileiro.
No início dessa semana Jair Bolsonaro, Presidente do Brasil, incentivou uma possível “briga entre o fuzil e o feijão”, apoiando claramente quem quer comprar o fuzil. Dói na alma e no bom português reescrever, mas a frase proferida foi essa: “Tem que todo mundo comprar fuzil, pô. Povo armado jamais será escravizado. Eu sei que custa caro. Aí tem um idiota: ‘Ah, tem que comprar é feijão’. Cara, se você não quer comprar fuzil, não enche o saco de quem quer comprar”. Lembrando que um fuzil custa no mínimo 12 mil reais, enquanto o preço de um quilo de feijão tradicional custa menos de 10 reais.
Enquanto o assunto ocupa espaço nas manchetes e nas redes sociais, dois recordes são batidos pelo país: 42 brasileiros se tornaram bilionários em 2021 (segundo a Forbes), mesmo ano em que o país chegou no recorde da extrema pobreza (segundo dados do Ministério da Cidadania). São mais de 14,5 milhões de famílias vivendo com renda per capita de até R$ 89 mensais, de acordo com o governo federal. E quem vai priorizar o fuzil com tanta gente de barriga vazia? O feijão é produzido para alimentar, enquanto as armas, dentro dessa declaração irresponsável, é mais uma cortina de fumaça para esconder a falta de competência que se alastra na esfera federal. O auxilio emergencial segurou a queda do Produto Interno Bruto do Brasil em 2020, mostrando que se o Governo quiser movimentar a economia e só permitir aos mais pobres o acesso aos alimentos básicos e, para isso, não vai precisar usar nenhum tiro de fuzil, apenas inteligência para eleger as prioridades e para alocar os recursos.
Obs.: Estudos científicos apontam que o relaxamento da legislação sobre o controle do acesso às armas de fogo “implica mais mortes e ainda mais insegurança”. Insegurança para a população e para os policiais que, além de combater os “criminosos tradicionais”, vão ter que enfrentar o destempero das “pessoas ditas comuns” com o porte de armas, seja no trânsito, numa balada ou em suas próprias casas por exemplo.