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Quem tem medo de olho grande?

Quem tem medo de olho grande?

Xô, olho grande, mau-olhado, olho gordo, quebranto…

Venho de uma família que carrega um elenco de crenças e superstições. Lá em casa havia mil preocupações do tipo “minha pálpebra esquerda está tremendo, sinal de más notícias” ou “derrubou o sal? Vai atrair má sorte”. Para algumas maldições havia antídoto, como jogar uma pitada de sal sobre o ombro direito para afastar o azar do tempero derramado. O que posso dizer em nossa defesa é que essa superstição “salgada” veio da antiguidade com os gregos e sumérios.

Minha amada avó materna benzia os netos, porque afinal todos eram tão lindos que certamente havia quebranto sobre eles. Lembro dela de olhos fechados, murmurando uma oração, enquanto batia levemente na gente com um galho de arruda. Isso vinha depois dela colocar um carvão em brasa em um copo de água. Se afundasse, alguém tinha posto mau-olhado nos seus netinhos queridos.

Na vida adulta tentei me livrar desses temores sendo racional. Costumava zombar dos amigos que alegavam estarem sob efeito de olho grande. Ah, dependendo da região, alguns chamam de ”olho gordo”. Trata-se, basicamente, da energia ruim que alguém lança sobre outro de quem sente inveja . Ora, ora… quanta bobagem, eu pensava.

Dia desses, conversando com os colegas do Clube de Criação Literária, lembrei de um episódio que pôs em cheque meu negacionismo. Aconteceu há anos quando participei de um jantar comemorativo do poderoso grupo de comunicação a quem minha ex-minha empregadora é afiliada.

Depois dos comes e bebes num conhecido restaurante paulista haveria sorteio de brindes para os jornalistas. Os mais cobiçados eram duas mochilas, carregadas de objetos interessantes, todos com o famoso logotipo. Todo mundo ali torcia para ganhar uma delas. Quando chamaram meu nome, mal acreditei.

Depois de receber meu ambicionado presente, pisquei o olho e falei brincando “morram de inveja, companheiros”. No passo seguinte não enxerguei os degraus ocultos por uma luz difusa e… me estatelei na escada. Ruborizada, mas sem largar a mochila do ombro, fui juntada do chão por um famoso apresentador.

Moral da história: se foi olho grande, coincidência ou apenas patetice, não sei. Mas lamentei, como nunca, a falta de minha avó e seus raminhos de arruda. Yo no creo em brujas, pero…

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MICROCONTO DE DOMINGO

 

“Viva o povo brasileiro”: desafio do coletivo Literatura Mínima (@literaturaminima).
Tema: traços de brasilidade.
Arte e mentoria: Robertson Frizero (@clubedecriacaoliteraria)

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