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Nosso olhar sobre o Oscar e o gostinho de “quero mais”!

Walter Salles recebe o Oscar de Melhor Filme Internacional (Foto: Reprodução)

Acordei tão contente e animada com o Oscar inédito para o cinema brasileiro ontem à noite que resolvi dividir algumas observações com vocês antes de sexta-feira, dia tradicional da coluna Cine& Séries.  O filme de Walter Salles cumpriu uma belíssima trajetória, ganhou dezenas de prêmios internacionais, projetou Fernanda Torres como uma das melhores atrizes do mundo e, talvez o mais importante, relembrou uma parte da história do Brasil que não pode, nem deve, ser esquecida. Tudo isso foi coroado com o Oscar de Melhor Filme Internacional na cerimônia de ontem.

Restou, é claro, certa decepção por não termos levado o prêmio de Melhor Atriz e de Melhor Filme, mas esse gostinho de “quero mais” vai servir de estímulo para mais e melhores produções cinematográficas nacionais.

Fiz alguns apontamentos durante a cerimônia, enquanto tentava acalmar meu coração  na torcida por “Ainda estou aqui”.

  • O apresentador Conan O´Brien, foi bem insosso e, diferentemente de colegas em outros anos, fez poucas piadas sobre política. Isso parece confirmar o que corre pelas alamedas de Los Angeles: Hollywood não está disposta a enfrentar a ira do novo governante que tem a classe artística na mira pelo apoio à sua adversária nas últimas eleições.

 

  • Conan fez também uma piada de péssimo gosto sobre “Ainda estou aqui” quando disse que sua mulher gostaria que ele desaparecesse como o marido do filme, Rubens Paiva [ sequestrado, torturado e morto durante a ditadura militar no Brasil].

 

  • Os resultados não surpreenderam muito, exceto na categoria Melhor Atriz, onde a vitória mais provável parecia ser a de Demi Moore, mas venceu Mikey Madison, protagonista de “Anora”.  Houve aqui uma certa ironia, pois Demi, aos 61 anos, perdeu para Mikey de 25 anos. A realidade imitou a arte, ou seja, teve bastante a ver com o tema de “A Substância”, filme pela qual Demi Moore concorria. O etarismo dirigido às atrizes, a ‘superioridade’ da juventude sobre as estrelas veteranas, disse hello no resultado da categoria.

 

  • Nossos representantes fizeram bonito. Ninguém pulou sobre as poltronas na hora do anúncio, nem gritou ‘ mamãe’ antes do discurso. Walter Salles foi elegante, simpático e dedicou o filme à Eunice Paiva, retratada no filme, e à mãe e filha,almas de “Ainda estou aqui”, as Fernandas.

 

  • Nossa estatueta foi entregue a Salles por Penélope Cruz, sempre deslumbrante, seguido de um longo abraço, marca registrada da nossa ‘latinidade’.

 

 

  • Enquanto isso acontecia em Los Angeles, no Brasil o povo parava o carnaval para aguardar o resultado e vibrar loucamente em seguida, em um bloco de orgulho e felicidade. Foi lindo de se ver.

 

  • O prêmio de melhor filme era o mais indefinido, começou com favoritismo de “Emilia Pérez”, passou por “Conclave” e acabou em “Anora”, um raro filme independente a ganhar o Oscar principal.

 

  • A transmissão pela televisão teve reforço este ano pela nossa presença entre os indicados. No canal fechado TNT e streaming MAX, a cobertura melhorou muito com a presença de Lázaro Ramos, que agia como torcedor ( estava liberado !), mas muito bem informado sobre o assunto, ao lado de Fabiula Nascimento e Aline Diniz. O deslize veio na piada tosca de Ana Furtado, dessa vez fazendo entrevistas no local da cerimônia e não no estúdio ( o que melhorou a transmissão). Entrevistando a equipe de “Ainda estou aqui”, grita Ana Furtado no cercadinho do tapete vermelho: “ chupa, Argentina!”. Selton Mello, bem sem jeito, tratou de elogiar o cinema argentino e lembrou que os hermanos têm dois Oscars.

 

  • Não posso opinar ( alô, Glória Pires) sobre a transmissão na TV aberta porque não acompanhei, mas Maria Beltrão entende do assunto e teve a companhia do crítico Waldemar Dalenogare e da atriz Dira Paes. Os assinantes da Globoplay reclamaram que o canal global transmitiu o carnaval e o BBB na hora do Oscar.

 

  • Sobre os looks, alguns pitacos de uma não especialista: Fernanda Torres continuou apostando no preto, num elegante vestido Chanel exclusivo; Timothée Chalamet usou um terno amarelo claro, que fez o brasileiro cantar ‘ meu pintinho amarelinho” na internet, e Ariana Grande – muito elogiada pelos especialistas da TV americana – adotou um vestido com uma espécie de mesinha auxiliar, onde daria para apoiar a taça de champagne.

 

 

 

Os discursos mais emocionados e emocionantes:

– Zoe Saldanha, que arrebatou todos os prêmios da temporada, incluindo o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, por “Emília Pérez”, onde ela é mais protagonista que a protagonista, diga-se de passagem, destacou que era a primeira vez que uma intérprete de origem caribenha ganhava um Oscar;

 

– Os diretores vencedores do Oscar com o documentário “ Sem Chão”, um palestino e outro israelense, fizeram um discurso necessário e emocionante sobre o conflito no Oriente Médio. Pedindo o fim no genocídio em Gaza, causaram algum mal estar na cerimônia que parecia não querer irritar a pessoa errada.

 

– Adrien Brody, outro que levou quase todos os prêmios da temporada por “O Brutalista”(Ralph Fiennes ganhou o Bafta) não aceitou o avisa musical de que seu tempo terminara e continuou falando depois de dizer que “ já estive aqui antes, não vou encerrar agora”, referindo-se ao seu Oscar por “O Pianista” (2004).

 

– Ralph Fiennes saiu outra vez de mãos abanando, apesar de ter entregue outra interpretação espetacular em “Conclave”. Costumo compará-lo à Glenn Close, dois atores incríveis que nunca caem nas graças nos votantes da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.

 

  • Precisamos falar de “Emília Pérez”, claro ! O filme francês, recordista de indicações na história do Oscar, treze ao todo, levou apenas dois prêmios: Atriz Coadjuvante para Zoe Saldanha e Melhor Canção, contestada por muita gente. A protagonista, Karla Sofía Gascón, que entrou para a história como a primeira atriz trans a concorrer ao Oscar, estava lá, mas sequer passou pelas entrevistas do tapete vermelho. Autora de declarações preconceituosas, ela carregou toda a culpa do desmonte do filme, mas houve outras polêmicas envolvendo a produção. O público mexicano ficou ofendido pela forma estereotipada como foi retratado e as declarações preconceituosas do diretor francês só pioraram tudo. Circula nas redes um vídeo hilário de apresentadores da TV mexicana comemorando animadamente a vitória de “Ainda estou aqui”, concorrente de “Emilia Pérez”.

 

  • Gene Hackman recebeu uma homenagem especial entre os artistas e profissionais do cinema que morreram em 2024 e no início de 2025. Gostaríamos de ter visto Cacá Diegues e Sérgio Mendes no In Memoriam, mas não aconteceu [ crédito: santosdodiogo- threads]

 

 

 

E agora ?

 A exposição do cinema brasileiro na comunidade internacional abre partes para outros prêmios. Quem será nosso próximo representante? “ O último azul”, de Gabriel Mascaro, com Rodrigo Santoro, ganhador do Urso de Prata em Berlim? Ou ainda está por vir o próximo filme que vai nos saciar esse gostinho de “ quero mais”? A ver.

Fernanda Torres já está sendo assediada por diretores de outros países. No tapete vermelho, ao ser perguntada o que gostaria de fazer, Fernanda Torres respondeu que seria um remake de “ O jovem Frankestein”, a comédia brilhante de Mel Brooks (1974). Enquanto isso, ela volta aos palcos brasileiros com a peça “ A casa dos Budas ditosos”, baseado no livro de João Ubaldo Ribeiro.

Selton Mello acabou de filmar o novo “Anaconda”, ao lado de Jack Black e Paul Rudd. Retorna ao Brasil para continuar dirigindo a atuando na série “ Em Terapia”.

Walter está terminando um novo projeto: a série documental “Sócrates Brasileiro” está em fase de montagem. São quatro episódios sobre a vida do falecido jogador Sócrates, ícone do Corinthians e da Seleção Brasileira, um raro futebolista engajado na luta política.

 

E nós, seguimos na torcida pela continuidade da retomada espetacular do nosso cinema! Que venham mais filmes, mais prêmios e que o brasileiro aprenda a amar mais a sua identidade nas telas.

 

Nota-pé: Ainda Estou Aqui e Anora estarão em cartaz no Cinema Paradigma, Florianópolis, a partir de quinta-feira (06/03).

 

[Brígida Poli – Coluna Cine&Séries]

 

 

*Fotos: Divulgação/Reprodução

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