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O novo (a)normal

O novo (a)normal
Marty Feldman em O Jovem Frankenstein

Dando um tempo no formato temático de Cine & Séries, mas garantindo a leitura semanal para quem segue a coluna. Toda sexta-feira,  uma nova “Crônica em Quarentena” e, claro, dicas de filmes e séries para amenizar esses tempos difíceis de pandemia e isolamento social. Fiquem bem!

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O novo (a)normal

Em uma das muitas cenas antológicas da comédia “O Jovem Frankenstein” (1974), de Mel Brooks, o médico pede ao criado Igor que roube um cérebro no laboratório para implantar na criatura a quem pretende dar vida. Igor escolhe um, leva para o Dr. Frankenstein que o coloca no corpo morto. Quando a criatura dá sinais de vida percebe-se logo que é um ser enlouquecido.

O cientista chama Igor e pergunta de quem era o cérebro que ele pegara. O criado responde: “no vidro estava escrito Abe”. ” E era Abe do quê?”. Abe Normal, responde Igor. Para se entender a piada “bilíngue”: abnormal = anormal.

Por que estou contando essa sequência do filme que mais me fez rir na vida? Porque mal a gente começou a falar sobre voltar à normalidade depois da pandemia , alguém vaticinou: será um NOVO normal ! Pronto, virou quase um bordão.

Já aceitamos que nada será como antes. A grande dúvida é como será esse tal de ” novo normal”. O que deixaremos para trás do antigo ? Das coisas cotidianas: já aprendemos a lavar as mãos ? Percebemos que usar máscara nos protege até das gripes comuns, então será um acessório permanente? Abriremos mão do abraço apertado e dos dois beijinhos na hora do cumprimento? Sei lá…

Li as indicações de uma famosa consultora de moda do que será tendência no vestuário pós-pandemia. Era tudo muito esquisito, meio fora do normal mesmo! Outra reportagem mostra que os pijamas, em versão fashion , serão peças para se usar na rua.

Confesso a vocês que meu maior medo é que nosso novo normal traga um “a” na frente. Aliás, a julgar pelo que temos visto no país, como florestas em chamas, enquanto ministros se chamam de ” Maria fofoca” e “Nhonho” parece que já vivemos um momento de “A” maiúsculo., mas isso é outra história.

Será que nosso “novo normal” se dará num nível que até o Dr.Frankenstein e seu monstro parecerão sensatos? Que São Judas Tadeu, o padroeiro das causas impossíveis, nos proteja. Amém.

(Brígida De Poli)

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DICAS & DICAS

Filmes

O caso Richard Jewell – dir: Clint Eastwood – 2020 (HBO)

Impossível a gente não se indignar vendo o último filme de Eastwood. Trata-se da história real de Richard Jewell , um segurança que encontrou uma bomba no local das Olimpíadas de Atlanta, em 1996, e ajudou a salvar muitas vidas. Pressionado a encontrar o culpado, o FBI acaba transformando Jewell de herói a principal suspeito. A vida dele e da mãe vira um inferno, com ajuda da mídia sensacionalista. Para defendê-lo, apenas um advogado decadente que Richard conhecia de outros tempos. Clint Eastwood recebeu críticas por exagerar e manchar reputações como a da repórter que teria obtido informações privilegiadas de agente do FBI oferecendo favores sexuais. Mas vale assistir.

 

Você não estava aqui  – direção:Ken Loach – 2019- Telecine 

Outro diretor veterano, outro filme que causa indignação!

A preocupação do diretor Ken Loach com a precarização da classe trabalhadora inglesa já apareceu em vários de seus filmes. O mais conhecido é “Eu, Daniel Blake”, vencedor da Palma de Ouro em Cannes. Agora, ele aborda o novo fenômeno nas relações de trabalho no mundo: a “uberização”. O personagem central é Ricky Turner, desempregado da construção civil, que acaba aceitando uma vaga como entregador sem vínculo empregatício e que precisa ter seu próprio veículo. Ele e a mulher acabam vendendo o carro para comprar a van de trabalho. Cada vez Turner precisa de mais e mais horas de jornada para poder sustentar os dois filhos, enquanto sua mulher também se esfalfa como cuidadora de idosos.

 

Judy-Muito além do arco-iris – dir: Rupert Goold- 2019 (Telecine)

Confesso que não gosto da Renée Zellweger, intérprete a diva Judy Garland, mas os elogios aos seu trabalho são unânimes, a ponto de ter ganho os principais prêmios de Melhor Atriz, incluindo o Oscar. Como ainda não vi o filme vou guardar minha opiniãozinha para mais tarde. Já dá para ter uma ideia no trailer abaixo.

Sinopse (Adoro Cinema) : Inverno de 1968. Com a carreira em baixa, Judy Garland aceita estrelar uma turnê em Londres, por mais que tal trabalho a mantenha afastada dos filhos menores. Ao chegar ela enfrenta a solidão e os conhecidos problemas com álcool e remédios, compensando o que deu errado em sua vida pessoal com a dedicação no palco.

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Séries

The Undoing – minissérie – HBO

Só tem dois episódios disponíveis por enquanto, mas é impossível não dar uma chance para uma série que traz Nicole Kidman e Hugh Grant encabeçando o elenco. Ela é uma terapeuta bem-sucedida, bem casada e com um filho adorável. Em uma reunião de pais ela conhece uma jovem mulher sedutora e angustiada. Bem, o 1º episódio traz surpresas que deixam a gente em suspense e por isso mesmo não conto mais. Vamos ver se a história conseguirá manter o clima. Outros nomes de peso no elenco: Donald Sutherland, pai do personagem de Nicole, e Édgar Ramirez, investigador de um assassinato.

 

The Americans – 6 temporadas – Prime

Essa é uma série que começou em 2013 e se tornou muito famosa, mas que só o público brasileiro têm oportunidade de ver agora na Prime. Premiada com o Globo de Ouro de Melhor Série Dramática e o Emmy de Melhor Ator para Matthew Rhys, um achado em tempos de séries fracas.

A trama: Dois espiões da KGB se fazem passar por um casal americano vivendo no subúrbio de Washington. Eles tem como missão controlar a rede de informações entre os espiões que operam no país.

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DISSECANDO “O GAMBITO DA RAINHA”

Na edição passada (aqui) a leitora Dilma Juliano “puxou a orelha” da colunista por ter sugerido, mas sem analisar, a minissérie “O Gambito da Rainha”. Para me redimir, pedi ao meu amigo Roberto Cattani, escritor, jornalista e cinéfilo, que escrevesse sobre essa produção interessante, distribuída pela Netflix.

Leia a análise de Cattani.

Não vou gastar espaço aqui para explicar o que é o gambito da rainha, ou gambito da dama, na técnica do xadrez, é só procurar na internet. Na série da Netflix, o gambito da rainha é a alegoria da vitória da protagonista sobre o machismo imperante no jogo, que não admite a possibilidade de uma grande mestra mulher.

E mais: jovem e linda (ainda que feroz, no jogo e na vida). Para começar: não precisa nem gostar, nem entender de xadrez para acompanhar os inúmeros jogos da série. Na verdade, a série é dominada por duas imagens recorrentes: o tabuleiro e os movimentos das peças, convergindo para o final de cada jogo, que às vezes parece um massacre, ou um crime, com suspensee tudo. E os olhos da Anya Taylor-Joy. São olhos inesquecíveis. Não especialmente bonitos, mas tão intensos, e mais que tudo, tão divergentes, tão espaçados no rosto, que dão a impressão que ela consegue enxergar detalhes ou movimentos que os outros não podem ver. Tem cenas de embate no tabuleiro que podemos acompanhar só pela expressão — exultante, furibunda, cruel, aliviada, envolvente, hipnótica, e mais que tudo, de serpente pronta a dar o bote — da Anya. Exatamente o oposto do seu maior adversário, o campeão soviético, que não deixa transparecer coisa nenhuma. Deve ser, de fato, uma desvantagem, ter olhos assim expressivos, no xadrez, como no pôquer e no bridge.

Uma das coisas que mais dá gosto de ver, na série, é a representação em imagens, quase gráfica, de uma inteligência superior em ação: nós leigos não podemos degustar a beleza da movimentação, a criatividade das soluções que ela encontra, e que deixam os adversários embasbacados. Mas com certeza, poderia se buscar na história do xadrez jogadores e jogos a essa altura: lembro que há trinta anos, Bobby Fischer ‘aconteceu’ no xadrez um pouco da mesma forma que a protagonista da série (e deve ter inspirado os autores): jovem, norte-americano (os campeões mundiais sempre eram e são russos), no limite do autismo (na época ainda não se falava de síndrome de Asperger, como a Greta), mas… genial.

Pena, aliás, ter que lembrar que a série é uma ficção — isto é, nunca houve, de fato, uma campeã jovem, vibrante e bonita como a Anya. É uma história apaixonante tirada de um livro, mas é ficção.

Agora, umas curiosidades históricas que podem interessar mesmo quem não quer saber de xadrez. O xadrez surgiu na Índia, depois passou para a Pérsia (atual Irã), para ser descoberto pelos árabes, e finalmente ser adotado (e adaptado) pelos europeus, no século 12. Naquela época, e até o século 15, o tabuleiro nem sempre era composto por 64 quadrados pretos e brancos: havia tabuleiros só com linhas cruzadas, sem preenchimento dos quadrados, tabuleiros com quadrados brancos e vermelhos (assim como as peças), outros vermelhos e pretos. Durante muito tempo, no lugar do bispo atual, jogava-se com um elefante, com um alferes ou um bufão, que eram a peça mais poderosa do jogo, porque a rainha só podia deslocar-se por uma, duas ou três posições. No século 15, acontece — no xadrez — o empoderamento da dama, que pode deslocar-se como e quanto quiser, e torna-se a peça mais poderosa.

No tabuleiro, na série, mas não na realidade, infelizmente.

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PARA LEMBRAR SEAN CONNERY

Escrevi uma coluna extra no domingo passado sobre a morte do grande Sean Connery, aos 90 anos. Leia aqui. Agora fiz uma pequena lista mostrando onde você pode ver alguns filmes com o ator escocês que fez fama como intérprete de James Bond, o agente 007, mas fez muito mais que isso.

Marnie-Confissões de uma ladra (1964) – Now

A mulher de palha (1964) – YouTube

O Golpe de John Anderson ( 1971) – Now

Os Intocáveis ( 1987) – Now

Indiana Jones e a última Cruzada (1989) – Netflix

Negócios de Família (1989) – Prime

A Casa da Rússia  ( 1990)– MGM

Lancelot, o primeiro Cavaleiro  ( 1995)– Netflix

Armadilha ( 1999)– Prime

A Liga Extraordinária (2003) – Now

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BÔNUS

No link abaixo você terá acesso ao e-book “Cenas de Confinamento/Escenas del Confinamiento” que reúne 55 textos dramatúrgicos de autores brasileiros e de outros países, como Estados Unidos, Argentina, Espanha, Portugal Uruguai…O livro é resultado de um concurso de textos para teatro e saiu com o apoio do Teatro Galpão Cine Horto, de Belo Horizonte. Tenho a honra de fazer parte dos autores selecionados ( A Mulher na Janela – pg.50).

http://primeirosinal.com.br/cenas-do-confinamento-escenas-del-confinamiento/

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THE END

(*) Fotos reprodução/divulgação

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

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