A saída de Wilson do cargo de gerente executivo de futebol do Figueirense foi um gesto raro de coerência, coragem e honestidade. Ídolo incontestável da torcida alvinegra, ele optou por deixar a função por não compactuar com os rumos que a gestão da SAF vinha impondo ao clube. A decisão, tomada com serenidade e antecipação, foi comunicada de forma transparente em uma coletiva — algo que falta à atual administração.

Wilson não se agarrou ao cargo nem buscou proteção institucional. Ao contrário, preferiu manter sua retidão a servir de escudo para uma gestão que acumula críticas e erros, levando o Figueirense à lanterna da Série C e sob risco real de rebaixamento à Série D. Mesmo tendo montado o atual elenco, o ex-goleiro via sua autonomia sendo minada, especialmente com as algumas interferências e decisões com as quais não concordou, especialmente saída de técnico e contratação de um outro profissional sem o seu apoio.
A saída foi mal compreendida por parte da torcida, influenciada pelo discurso da direção, mas o gesto de Wilson foi, na essência, de preservação e respeito ao clube. Ele preferiu sair antes que sua presença fosse usada para legitimar decisões com as quais não concordava. Sua postura reforça o contraste entre a transparência que ele praticou e a falta de diálogo da gestão atual com os torcedores.

A despedida também escancara o desprezo com que o clube trata seus ídolos. O jogo de encerramento da carreira de Wilson só aconteceu porque Marco Aurélio Cunha decidiu pela sua realização, numa reparação tardia que incluiu também o meia Fernandes. Agora, novamente, o clube perde alguém que poderia contribuir muito mais, se tivesse o respaldo e a liberdade necessários para isso.