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A felicidade das pequenas coisas

Cena de "A felicidade das pequenas coisas" /Divulgação

A felicidade das pequenas coisas

Drama e suspense são meus gêneros favoritos. Vejo também muitos filmes que envolvem geografia política e séries investigativas sobre crimes. Mas, é preciso dar um certo descanso para a mente de vez em quando e buscar temas mais delicados, ainda mais quando se vive tempos tão sombrios.

Esta semana fiz isso. Assisti a A felicidade das pequenas coisas (2020), produção chinesa-butanesa dirigida por Pawo Choyning Dorji e revi o iraniano Onde fica a casa do meu amigo? (1987), de Abbas Kiarostomi.

O filme de Abbas já tem trinta e cinco anos e deu início à carreira internacional do diretor, divulgando o cinema iraniano para o mundo. Onde fica a casa do meu amigo? mostra o pequeno Ahmad tentando desesperadamente devolver o caderno do seu coleguinha que pegou por engano. O amigo fora ameaçado de expulsão pelo rígido professor, caso   não fizesse a lição de casa no caderno. Vemos Ahmad correndo de um lado para o outro em busca da casa do amigo, enquanto vai encontrando pessoas que nos mostram a realidade e as transformações da aldeia. Um homem velho lamenta que as portas de madeiras que esculpia estejam sendo substituídas por outras de ferro; o fabricante das novas portas insiste exaustivamente para que os moradores comprem seu produto; o avô quer castigar o menino como forma de educá-lo. Enquanto isso, Ahmad sofre por medo do que possa acontecer com o amiguinho e também pelo que o espera em casa, de onde saiu escondido. Pelos olhos de menino, a quem ninguém ouve por ser apenas uma criança, vemos o mundo e a sociedade iraniana. O filme está disponível no Inmovision Reserva, dentro do Prime Vídeo.

A felicidade das pequenas coisas é bem recente e uma rara produção do Butão que ganha projeção internacional. A trama segue o jovem professor butanês, Ugyen, que foge do trabalho com o sonho de ir para a Austrália se tornar um cantor, mas é castigado por seus superiores e enviado à escola mais remota do mundo em Lunanao, uma vila glacial do Himalaia. Sem os confortos ocidentalizados a que está acostumado, Ugyen leva oito dias para chegar à aldeia e lá não encontra eletricidade, livros ou sequer um quadro negro. Os aldeões, muito pobres, dão as boas-vindas ao novo professor, mas ele enfrenta a difícil tarefa de ensinar as crianças da aldeia sem nenhum material. Ele quer desistir e ir para casa, mas começa a aprender com as dificuldades na vida dos alunos, a incrível força espiritual dos aldeões e como conseguem ser felizes. Disponível no Telecine/Now  (Veja o trailer)

Fiquei pensando que ver filmes delicados como esses é encontrar a felicidade nas pequenas coisas.

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FILMES

Licoricce Pizza – direção : Paul Thomas Anderson – 2021 –Prime

Outro filme delicioso que, finalmente, chegou ao streaming sem custo à parte!  Indicado ao Oscar em 2022 – nas categorias de Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Roteiro Original – Licoricce Pizza pode agradar até quem não é muito chegado em musicais. A história se passa em 1973, no sul da Califórnia, quando uma mulher de 25 anos e um adolescente de 15 se encontram . Gary se apaixona de imediato por Alana e não esconde seus sentimentos, mas ela não demonstra o que sente por ele. A dupla é interpretada por Cooper Hoffman , filho do saudoso Phillip Seymour Hoffman, e Alana Haim tem uma banda chamada Haim. Ainda no elenco, dois nomes de peso: Bradley Cooper e Sean Penn.

Reprodução/Divulgação

 

O festival dos trovadores – direção: Ozcan Alper – 2022 – Netflix

A Netflix tem aberto espaço para produções da Turquia. Inspirado no livro de mesmo nome, coube a um dos grandes nomes do cinema turco dirigir essa história comovente. O mote não é novo: um acerto de contas entre pai e filho. O advogado Yusuf é surpreendido quando o pai reaparece na vida dele após vinte e cinco anos de ausência, querendo reaproximar-se do filho. Magoado pelo abandono após a morte da mãe, Yusuf terá que lidar com suas feridas emocionais, enquanto dá carona ao pai em uma longa viagem até um festival de músicos. Bem comovente.

Reprodução/Divulgação

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SÉRIES DO EMMY

Tivemos a premiação do Emmy esta semana e entre as séries vencedoras estão duas das minhas favoritas: Succession e The White Lotus. Se você ainda não viu, corre lá na HBO.

Reprodução/Divulgação

Succession é a mais conhecida e fica melhor a cada nova temporada. Inspirada na peça Rei Lear, de William Shakespeare, segue a família Roy formada por quatro filhos e um patriarca feroz. Tudo gira em torno do poder e da sucessão do pai no império midiático que ele dirige com mão de ferro. Mas, no fundo, o que os filhos querem mesmo é a aprovação e o amor do pai.

A série, que está na terceira temporada, já deu o Emmy a outros membros do elenco. Este ano, a honraria coube a Matthew MacFayden que interpreta o genro pusilânime do big boss. O britânico MacFayden é famoso por ter interpretado o melhor dos Mr.Darcy da obra de Jane Austen, Orgulho e Preconceito. Succession  levou  Melhor Roteiro de Drama e ainda o prêmio mais importante da noite, o de Melhor Série de Drama. Longa vida aos Roys!

The White Lotus , com apenas uma temporada, só agora vai ser descoberta pelo grande público no Brasil. Custei um pouco a vê-la depois do lançamento e acabou sendo uma bela surpresa. O humor ácido e a crítica social repleta de ironia levaram a maior quantidade de Emmys. Foram cinco no total, incluindo a de melhor série limitada, antologia ou filme para TV, e ator coadjuvante  para Murray Bartlett e atriz coadjuvante Jennifer Coolidge no mesmo gênero.

Murray Bartlett super mereceu o prêmio por interpretar o gerente doidão de um resort de luxo, onde os empregados têm que lidar com os caprichos e arrogância dos hóspedes. A segunda temporada já está em produção. Que venha logo!

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EXTRA * EXTRA*EXTRA

Reprodução/Divulgação

Olha a colunista no júri dos Curtas-Catarinenses do FAM !

O Festival Internacional de Cinema Florianópolis Audiovisual Mercosul volta a ser presencial com exibição de setenta e cinco filmes, palestras, oficinas entre os dias 22 e 28 de setembro

Tive a honra de ser convidada para integrar o Júri do Prêmio Especial para a Mostra Curtas Catarinense, dentro do FAM. Pela primeira vez em 26 anos , jornalistas formarão esse Júri Especial. Estarei ao lado dos colegas Ed Soul, Marta Gomes, Rosana Ritta e Romi de Liz.

É importante esse espaço exclusivo para produções do nosso estado, como fomento à cultura.  O público poderá assistir a seis curtas na programação que começa na quinta-feira (22.09) com o filme experimental Entre a Diáspora e a Pólvora, dirigido por Teno Broll. Na sexta-feira (23.09) é a vez de Dois Um, de Pedro Karam; e no fim de semana serão exibidos, respectivamente, Artistas Invisíveis, da diretora Nadjara Cardoso, e Precioso, o Filme, de François Muleka.

A semana inicia com a exibição de Vale da Morte, de Marilia Mingotti. E na terça-feira (27), encerrando as exibições dos curtas catarinenses, Sonido, de Gabriely Kaiser. O vencedor receberá o Troféu Panvision.

Prestigiem nossos cineastas. Depois, me contem o que acharam.

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O adeus a um cineasta revolucionário

Cinema é a fraude mais bonita do mundo (Jean-Luc Godard).

Reprodução/Divulgação

Nem todo mundo curte os filmes de Jean Luc-Godard, mas de uma coisa ninguém discorda, o diretor franco-suiço revolucionou a estética do cinema como pioneiro do movimento Nouvelle Vague. Godard dirigiu mais de quarenta filmes em setenta anos de carreira, sempre fugindo do convencional, do cinema dito acadêmico.

Seu primeiro filme foi também o mais popular: Acossado (À bout de souffle), de 1960, com Jean-Paul Belmondo no papel de um jovem ladrão de carros que leva  a linda americana, Jean Seberg, na sua fuga da polícia. O roteiro era de outro diretor que se tornaria cult, Françoise Truffaut. Godard dirigiu também O Desprezo (1963), com Brigitte Bardot;  a ficção científica Alphaville (1965)  e o polêmico Je vous salue, Marie ( 1985). Esse último mexia com os dogmas da Igreja ao adaptar a história da Virgem Maria para o final do século. A jovem Maria fica grávida e isso gerou manifestações no mundo inteiro.

No Brasil, Eu te saúdo, Maria foi o último filme a ser proibido pela censura,  resquício da ditadura militar que durou 21 anos. Obedecendo a pressões dos segmentos conservadores da sociedade, o presidente José Sarney proibiu sua exibição em território nacional, em 1983. Lembro que organizavam excursões ao Uruguai para ver lá o filme de Godard. Algum tempo depois de liberado no Brasil, o filme foi decepcionante para a maioria de nós. A imaginação superara a realidade.

Segundo algumas fontes, Godard escolheu morrer pelo suicídio assistido, aos 91 anos. Não estava doente, mas esgotado, diz a mídia internacional. Seja como for, o diretor nos permitiu encontrar a felicidade nas pequenas coisas ao sentarmos na sala escura para ver seus filmes. Que descanse em paz.

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Le Fin

cronica

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