Portal Making Of

As melhores séries do ano até agora e as nem tão boas assim

Yroyuki Sanada, produtor e intérprete de Xógum. Foto: Star+/Divulgação

A coluna gosta de avisar sobre as novidades assim que elas chegam às plataformas, então nem sempre consigo ver a tempo de dizer o que achei de cada uma. Ainda mais depois que os canais passaram a disponibilizar episódios semanais e não na íntegra, como era antigamente. Com oito capítulos, em média, leva-se dois meses até chegar ao capítulo final. Então, vou atualizar vocês sobre as principais produções, queridos leitores.

Indiquei séries muito aguardadas, apoiada nas informações de roteiro, direção e atores, mas nem todas entregaram o que prometeram. Listei algumas das mais importantes entre as que surpreenderam, seja pelo lado positivo ou negativo.

Entregaram o que prometeram ( e até mais )

1. Xógum: A gloriosa saga do Japão ( Star+)

Baseada no clássico da literatura deJames Clavell, Xógum já tinha sido adaptado para a TV, em 1980, com enorme sucesso, marcando a carreira dos atores Richard Chamberlain e Toshiro Mifune. A trama acompanha o herói britânico John Blackthorne, um marinheiro que  vai parar no Japão involuntariamente e é obrigado a conviver e a entender uma cultura tão diferente. Visto inicialmente com desconfiança por ser um forasteiro, Blackthorne é usado pelo líder japonês Toronaga para chegar ao topo da cadeia de poder, posto também conhecido como Shōgun. Nesse remake os papéis principais ficaram a cargo de Cosmo Jarvis (conhecido também como músico europeu) e Hirouyki Sanada (de O último Samurai).

Opinião da coluna: Ainda falta o episódio final, mas já estou com saudades de encontrar semanalmente os personagens de Xógum e acompanhar a transformação do inglês rústico em alguém que aprende a tomar banho regularmente, a falar o idioma local e a admirar aquela cultura onde a honra é mais importante que a própria vida. O figurino é espetacular e seguiu quase inteiramente à risca os costumes da época ( abriram uma exceção para os sapatos, que não eram usados pelos japoneses ) ; as filmagens ocorreram no Canadá – mais especificamente, na região de Vancouver, na costa do Pacífico, mas a direção de arte consegue nos levar ao Japão medieval. Os atores são ótimos, principalmente  Hiroyuki Sanada  que interpreta o senhor Toronaga e é um dos responsáveis pela produção da série. Como produtor, Sanada exigiu que o elenco e equipe fossem japoneses. Sua referência foi “O último samurai”, filme de 2004, com Tom Cruise, no qual ele também atuou.

Veja o trailer de Xógum:

2. Ripley ( Netflix)

O famoso personagem do romance de Patrícia Highsmith já rendeu ótimas versões para o cinema. Agora, a Netflix traz a minissérie – em preto e branco – recontando a história de Ripley, o homem contratado por um empresário poderoso para trazer seu filho de volta para casa. O rapaz vive num lugar idílico na Itália, onde aproveita a vida e se ocupa pintando quadros. Ripley se aproxima dele e de sua namorada e passa a invejar a boa vida do playboy. Mais que isso, ele a quer  essa vida para si. A partir daí, seguem-se fraudes, roubos e até mortes. O novo Tom Ripley é vivido pelo irlandês Andrew Scott, conhecido como o vilão Jim Moriarty de Sherlock Holmes, que lhe rendeu o Bafta de melhor coadjuvante, e na série Fleabag.

Opinião da coluna: Quem acompanha a coluna sabe que sou avessa a remakes quando a história já foi bem contada. É o caso do filme O talentoso Ripley, de 1999, com Matt Damon no papel título e Jude Law vivendo o playboy e direção de Anthony Minghella. Então, quando li que haveria uma minissérie baseada na mesma obra Patricia Highsmith, fiquei com um pé atrás. Pois, agora findos os oito episódios, já posso dizer que é uma das melhores séries do ano e vai entrar nas premiações com certeza. Há diferenças para o filme. A escolha da fotografia (espetacular!) em preto e branco, já indica que a abordagem é mais noir, o Ripley dessa vez é bem mais sombrio. A falta de cor não tira a beleza das locações, o sul da Itália, Veneza… e cada enquadramento é uma ‘pintura’, remetendo a uma figura importante na trama, Caravaggio, o grande e trágico pintor italiano. No início estranhei o ator escolhido para o papel título, Andrew Scott, pois custei um pouco para tirar o Matt Damon da cabeça,  mas depois vi que não foi por acaso. Ele ‘combina’ com a visão do diretor sobre o personagem. Se você gosta de um bom suspense/drama, mesmo não gostando de produções em preto e branco, recomendo muito que assista ‘ Ripley’.

Poderia ser melhor

1. O problema dos três corpos

Baseada na trilogia de livros do escritor Cixin Liu – vencedor de vários prêmios literários – a série produzida pela Netflix, com os criadores de Game of  Thrones, se passa no final dos anos 60 durante a Revolução Cultural na China. Um grupo de astrofísicos, militares e engenheiros decidem realizar um projeto para se comunicar com possíveis vidas fora da Terra, mas isso vai repercutir na humanidade cinquenta anos depois, ameaçando-a por forças desconhecidas. Agora, eles terão que sobreviver a uma visita inesperada enquanto cientistas do tempo presente tentam desvendar os segredos e mistérios do projeto realizado anos atrás.

Opinião da coluna: A série é boa, com ótima produção e cenografia,    incluindo cenas fantásticas como aquela em que o navio é ‘fatiado’. A maior reclamação que ouvi de quem assistiu é a dificuldade de acompanhar as questões ‘científicas’ da história, causando confusão no público sobre o desfecho dessa primeira parte. Gostei da série, mas concordo que poderiam ter simplificado a terminologia. O elenco é carismático e ter Jonathan Price em um dos principais papéis é sempre um ganho. Enfim, a expectativa era tão grande que deixou um pouquinho a desejar.

2. Tokyo Vice – 2ª temporada

A trama acompanha o jovem jornalista americano, Jake Adelstein, que sonha em trabalhar num jornal japonês. Ele se torna o único gaijin americano a conseguir emprego no Meicho, importante jornal de Tokyo. Juntamente com o detetive local, Hiroto Katagiri, ele investiga a Yakuza, a perigosa máfia japonesa.  Adelstein realmente existe e viveu no Japão. Um dos trunfos da série é a escolha dos atores Ansel Elgort ( Amor, Sublime amor/Estava escrito nas estrelas) e Ken Watanabe ( O último samurai/Memórias de uma gueixa). 

Opinião da coluna: Gosto muito de histórias sobre jornalismo, claro, e também de dramas que tragam suspense. Foi uma alegria quando descobri a primeira temporada de “Tokyo Vice”, que juntava as duas coisas e ainda mostrava a cultura japonesa contemporânea. Os atores super carismáticos, rodeados de bons coadjuvantes orientais, me levaram a escolher a produção como das melhores surpresas do ano passado. Aguardei ansiosamente pela segunda temporada e ela chegou em março deste ano. O que posso dizer é que gostei bem mais da primeira. A nova temporada investe muito na parte policial, nos crimes da Yakuza e em clichês do gênero. Mas, exatamente esses aspectos podem ter feito o grande público gostar mais. Não chega a ser ruim, mas eu esperava mais.

Deixou a desejar

1. O regime

Kate Winslet interpreta Elena Verham, a paranoica e excêntrica chanceler de uma nação européia fictícia, cujo poder começa a desmoronar em meio às questões da vida pessoal. Ditatorial, ela sofre de hipocondria, não ouve seus ministros e tudo piora depois que passa a se relacionar com um cabo do exército apelidado de “Açougueiro”. Essa sátira política de apenas seis episódios traz também Hugh Grant no papel de um preso político, além de ótimo elenco de apoio.

Opinião da coluna:  Esta minissérie foi muito aguardada. Veio com o selo de qualidade do criador Will Tracy (O Menu) e direção de Stephen Frears (A Rainha) e Jessica Hobbs (The Crown). Ter Kate Winslet como protagonista já mostra a importância da produção. E a atriz, claro, não decepciona com sua tirana que repuxa a boca para o lado a cada frase. Talvez a proposta  seja ousada demais, tendendo à pretensão, mas para mim, de algum jeito faltou algo às  críticas ácidas à política e aos governos, carregadas no cinismo propostas pela minissérie. O público não foi muito generoso na avaliação do importante site Rotten Tomatoes, onde a produção ganhou apenas 58% de aprovação. A crítica dividiu-se entre elogios e desapontamentos. Se você ainda não viu, confira e tire suas próprias conclusões.

Destaques nas plataformas

Bebê Rena – 7 episódios – 2024 – Netflix

Não se engane com o título aparentemente inofensivo. Não é uma minissérie sobre bichos fofinhos, é sobre abuso, traumas e perseguição. Até há quem tenha achado alguma graça em situações que propõe um riso amargo, já que o personagem principal é um comediante. Ele é Richard Gadd, escritor e intérprete da própria história no teatro e nessa série.  A trama tem início quando Gadd se envolve com Martha, uma mulher vulnerável que está passando por seus próprios problemas. Eles se conhecem quando Gadd é atendente num bar e ele dá a ela um chá grátis. Durante quatro anos, o artista recebeu 41.071 e-mails, 350 horas de mensagens de voz, 744 tweets, 46 mensagens no Facebook e 106 páginas de cartas de sua stalker. Só quando Gadd relata seus traumas, entendemos um porque ele não reage rapidamente àquela obsessão. Em resumo, trata-se uma história diferente e angustiante, mas muito bem contada.

Destaques da semana nas salas de exibição

A Natureza do Amor – direção: Monia Chokri – 18h55 – Cine Paradigma

A comédia romântica canadense “A Natureza do Amor”, dirigida por Monia Chokri foi destaque no Festival de Cannes 2023 e venceu o prêmio de Melhor Filme Estrangeiro nos Prêmios Cèsar 2024.

O filme acompanha a história de Sophia, uma professora de 40 anos que mantém um relacionamento longo, estável e conformado com Xavier. Mas a vida dela vira de cabeça para baixo ao conhecer Sylvain, que está reformando sua nova casa de campo. Ela vem de uma família rica, enquanto ele vem de uma família de trabalhadores braçais. Sophia questiona seus próprios valores após se entregar aos seus impulsos românticos. Os opostos se atraem, mas eles podem ser duradouros?

Outras produções também estão em cartaz no Paradigma, como O Sabor da Vida, de Tran Anh Hung, na sessão das 14h; Guerra Civil, dirigido por Alex Garland, na sessão das 16h40; e 20.000 Espécies de Abelhas, com direção de Estibaliz Urresola Solaguren, na sessão das 21h10.

*Não haverá a sessão de sábado, 27 de abril, devido ao projeto Museus Virtuais.

**Na quarta-feira, 1º de maio, às 16h40, haverá sessão especial de estreia do filme “O Amor Sangra”, de Rose Glass. Portanto, não haverá a exibição de Guerra Civil neste dia e horário.

Guerra Civil – direção: Alex Garland – 2024 (várias salas)

Não tenho como negar que meu maior interesse em conferir essa produção americana é a presença de Wagner Moura no elenco. Ele interpreta um jornalista que, junto com a personagem de Kirsten Dunst, viaja registrando o cenário violento que tomou as ruas dos Estados Unidos durante uma guerra ambientada em um futuro não tão distante. Eles acabam se tornando alvo dos soldados e precisam lutar pela sobrevivência. A direção dessa película que mistura suspense e ação é do premiado Alex Garland, conhecido por Ex Machina. No elenco está também Jesse Plemmons que brilhou em Ataque de Cães e é casado com Kirsten Dunst.

THE END

 

 

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

Compartilhe esses posts nas redes sociais: