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O sucesso de ‘Bebê Rena’ traz à lembrança stalkers famosos do cinema

Talvez nem a Netflix esperasse o tamanho do sucesso feito por “Bebê Rena”, a minissérie que em duas semanas tornou-se a mais vista da plataforma. Apesar de o título sugerir uma história fofinha – e nos primeiros episódios até trazer certo humor – o desenrolar é forte e impactante.

A produção é inspirada na peça homônima criada pelo britânico Richard Gadd e se baseia em uma situação vivida realmente por ele. Ele trocou os nomes dos personagens para evitar expor os verdadeiros, já que seus comportamentos são bastante condenáveis.

Na série, Gadd interpreta Donny Dunn, um bartender londrino que faz pequenos esquetes de humor, sem sucesso. A vida de Donny muda quando ele conhece Martha, uma jovem chorosa que entra no bar sem dinheiro para pagar um chá. Com pena dela, ele oferece a bebida de graça e inicia uma conversa para confortá-la.  A partir daí, ela passa a visitá-lo todos os dias e a enviar mensagens, chegando ao número absurdo de 41.071 e-mails, 350 horas de mensagens de voz, 744 tweets, 46 mensagens no Facebook e 106 páginas de cartas.

Gadd não se coloca como vítima inocente porque, de certa forma, algo dentro dele o faz alimentar o assédio de Martha. Ficamos sabendo de um trauma do passado que ele carrega e, para mim, bem pior que ser stalkeado pela garota. Richard Gadd foi recompensado pela coragem de contar suas mazelas na peça e na série, tornando-se conhecido no mundo inteiro e sendo convidado para novos projetos. Da pior maneira, o comediante medíocre virou uma celebridade.

Obs: O apresentador britânico Piers Morgan entrevistou uma mulher que se diz a inspiradora do personagem Martha, a stalker de “Bebê Rena”. Ela reclama de haver sido mostrada de forma cruel por Richard Gadd, mas – como ele manteve a identidade dela em sigilo – Fiona Harvey deu as caras por vontade própria.

Tramas de stalkers (perseguidores) e fãs obcecados não são novidade no cinema e sempre atraem público. Lembrei do pioneiro “Atração Fatal”, de Adrian Lyne, de 1987, mas depois dele vieram dezenas de outras versões sobre o tema. Listei alguns de que eu gosto, mas certamente vocês terão outros. Mandem para a coluna.

Atração Fatal – filme e série

O filme de Adrian Lyne causou alvoroço e muitos memes, mesmo quando essa palavra ainda não era moda, afinal falamos de 1987. Michael Douglas é Dan Gallagher um bem sucedido advogado, feliz no casamento e pai de uma filhinha. Um dia, a esposa viaja e ele conhece Alex, uma loira aparentemente liberada, interpretada magistralmente por Glenn Close, num bar. Os dois acabam tendo uma noite quente, o que para o “bom marido”, terminava ali. Mas, Alex queria continuar e começa a perseguir o amante e a família dele, inclusive cozinhando o coelhinho da menina, em uma das cenas icônicas de “Atração Fatal”. A história recebeu críticas por demonizar as mulheres sexualmente livres, mandando também um alerta moralista do tipo “olhe o que pode acontecer se você for infiel”. Seja como for, tornou-se um sucesso e influência eterna para outros do gênero.

Trinta e seis anos depois, a trama central de “Atração Fatal” volta em formato de série, como uma sequência da trama. Dan foi preso pelo homicídio de Alex Forrest e sai em liberdade condicional quinze anos depois. Ele quer reestabelecer sua relação com a família e provar sua inocência. Durante toda sua sentença, e depois, ele passa as noites em claro tentando entender como a paixão por Alex não só virou destruiu sua vida, mas também o que poderia ter causado a morte dela. A versão seriada de “ Atração Fatal” não agradou muito público e crítica, mas sempre vale conferir. (Veja o trailer) – Série disponível no Paramount+.

FILMES

Louca obsessão – direção: Rob Reiner – 1990

Essa é um dos melhores resultados entre os vários romances de Stephen King adaptados para o cinema. James Caan interpreta o famoso escritor Paul Sheldon que, após sofrer um acidente de carro, é socorrido pela enfermeira Annie Wilkes. Ela se diz fã número um de Sheldon e começa a cuidar dele em sua casa. Um dia, Annie descobre que o autor vai matar a personagem favorita dela no próximo livro e torna-se vingativa. A vida dele vira um inferno. O papel de Annie deu um Oscar à Kathy Bates e tornou-se um cult do gênero. Disponível no Prime Vídeo.

Notas sobre um escândalo – direção: Richard Eyre – 2006

Junte duas grandes atrizes e um bom roteiro e teremos um resultado excelente. Judi Dench é Bárbara, uma velha professora, solitária e desanimada com a profissão quando chega à escola uma nova e bela professora de artes, Sheba, interpretada por Cate Blanchett, casada e com dois filhos. Bárbara encontra um objetivo em tornar-se próxima de Sheba e vira seu ombro amigo quando ela se envolve com um aluno de quinze anos. Aos poucos a obsessão pela colega vai tomando outros rumos. O filme concorreu ao Oscar de Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante, Roteiro adaptado e Trilha sonora – para Phillip Glass. Disponível no Star+.

O homem invisível – direção: Leigh Wannell – 2022

Se ter um stalker atrás de si já é horrível, imagina se não der para vê-lo! Inspirado no romance de H. G. Welles, “O Homem Invisível” segue uma mulher que luta para escapar de seu ex marido abusivo. Cecilia, interpretada pela ótima Elizabeth Moss, vive em uma mansão isolada com um cientista famoso, controlador e violento. Ela foge e logo recebe a notícia que ele suicidou-se. Só que coisas estranhas começam a acontecer e Cecília passa a ter certeza que seu violentador está vivo e continuará perseguindo-a. Disponível na Apple TV.

Amante, stalker e mortal – documentário – 2024

Esse documentário conta como a vida do mecânico Dave Kroupa se tornou um inferno ao começar a sair com uma mulher que conheceu online. A relação resultou em perseguição, assédio, incêndio e, até mesmo, assassinato. Recém divorciado, Dave teve dois casos rápidos e um dia as duas mulheres se cruzaram na casa dele. A partir daí, uma delas começa a receber ameaças. Não vou dar spoiler, mas esse “triângulo” entrega uma grande surpresa. Disponível na Netflix.

LANÇAMENTOS NAS PLATAFORMAS

SÉRIES

Feud – 2ª temporada – STAR+

Se a segunda temporada de “Feud” (Disputa) for tão boa quanto a primeira – que mostrou a rixa entre Bette Davis e Joan Crawford, então essa é a melhor estreia da semana. Sete anos depois da primeira, agora trata-se de Truman vs The Swans, mostrando o conflito entre o escritor Truman Capote e as Swans, um grupo de socialites poderosas de quem ele era próximo e depois tornou-se inimigo ao divulgar seus segredos. Elas são interpretadas por Naomi Watts, Chloë Sevigny e Diane Lane. Tom Hollander, que vimos recentemente em The White Lotus, vive o polêmico Capote.

Um cavalheiro em Moscou – 1ª temporada – Paramount +

Baseada no romance homônimo de 2016, de Amor Towles, a minissérie foca na história do aristocrata russo Alexander Ilyich Rostov, vivido por Ewan McGregor. Na trama, ele é condenado à prisão domiciliar em um hotel de luxo durante a Revolução Bolchevique – a Revolução Russa de 1917. Durante décadas, o conde acompanha as mudanças e a passagem do tempo no mundo exterior a partir de sua janela, enquanto descobre novas relações humanas.

DESTAQUES NAS SALAS DE CINEMA

Minha indicação esta semana são três produções nacionais, duas delas abordando personagens reais muito importantes para a cultura brasileira.

Nada será como antes – A música do Clube da Esquina – direção: Angela Riepper

Sinopse: O filme mergulha na musicalidade de um excepcional time de músicos – Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes, Toninho Horta e outros – para entender como referências musicais diversas e influências de paisagens, história e poesia refletiram em cada um deles e na música atemporal que criaram. Veja o trailer. (Em Cartaz no Cine Paradigma- Flops)

Veríssimo – direção: Angelo Defanti

Sinopse: Um documentário observa Luis Fernando Verissimo, enquanto Luis Fernando Verissimo observa o mundo ao seu redor se ouriçar com a chegada dos seus 80 anos. Veja o trailer. (Em cartaz no Cine Paradigma-Flops)

Vermelho Monet – direção: Halder Gomes

Sinopse: Johannes Van Almeida (Chico Diaz) é um pintor de mulheres sem aceitação no mercado; obsoleto. Com a visão deteriorada e à beira de um colapso nervoso, encontra em Florence Lizz (Samantha Müller) – uma famosa atriz em crise e insegura na preparação para o seu filme mais desafiador – a inspiração para realizar sua obra prima. Antoinette Lefèvre (Maria Fernanda Cândido) é uma influente marchand/connoisseur de arte que fareja o valor de obras de arte quando histórias de inspiração viram obsessão entre pintores e modelos. (Em cartaz no Shopping Villa Romana-Flops)

Ao Rio Grande do Sul, com amor

É impossível não mencionar a tragédia que se abateu sobre o Rio Grande do Sul, principalmente Porto Alegre, por acaso cidade natal de Luis Fernando Veríssimo e também minha.

Pensei em postar “Ramilonga”, que sempre brinco ser a única coisa que me dá banzo nesta vida, mas acho que não ia suportar ouvi-la agora. Escolhi outra pérola de Vitor Ramil, “Querência”.

Há muitas formas e lugares para ajudar as vítimas da tragédia. Um pouquinho de cada um já será de grande valia. Minha solidariedade a todos, meu agradecimento a quem puder colaborar.

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

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