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Após princesas e rainhas, a vez da Imperatriz

Drevim Lingnau como Sissi em "A Imperatriz"/divulgação Netflix

Após princesas e rainhas, a vez da Imperatriz

Desde meninas somos encantadas pelas histórias de princesas. De Cinderella e Branca de Neve até Ariel e Pocahontas, elas foram se atualizando  geração após geração. São personagens eternas no imaginário feminino.

Com o sucesso de The Crown, sobre a vida dos Windsor, as rainhas ganharam espaço. Uma das séries de maior audiência dos últimos anos, a trajetória da Rainha Elizabeth II prepara a estreia da quinta e última temporada para novembro.

Enquanto a rainha inglesa não chega para as despedidas, uma imperatriz vem fazendo sucesso na Netflix. É Elisabeth von Wittelsbach,  mais conhecida como Sissi, que reinou na Áustria no século 19. A versão romantizada de sua vida fez enorme sucesso no cinema e, mesmo tendo estreado há  setenta e sete anos, a trilogia ainda é exibida na TV em época natalina. Foi esse papel que lançou a linda atriz alemã, Romy Schneider, em sua carreira internacional.

Há um revival este ano: além da produção da Netflix, outra minissérie da TVNow alemã e o filme Corsage, com Vicky Krieps, tem a austríaca como tema.

Por enquanto temos acesso à cinebiografia na Netflix. Diferente da meiga mocinha interpretada por Romy Schneider, A Imperatriz, pinta a trajetória de Sissi com cores mais fortes . O escritor e professor Robertson Frizero escreveu especialmente para a coluna sobre essa produção em seis episódios.

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Artigo

Pobre imperatriz!

Em tempos nos quais os streamings foram invadidos por histórias românticas vintage com pouca preocupação com a verdade história, é um refrigério poder acompanhar com interesse uma história real – em mais de um sentido – e tão repleta de dramas que poucas ficções históricas são capazes de superar.

Pois é assim a história de Elisabeth – não a monarca britânica que há pouco faleceu, mas a imperatriz da Áustria, cuja beleza só não a tornou mais inesquecível nos livros de História que o fio de tragédias que compuseram seu longo colar de lágrimas… Uma nova série na Netflix traz a incrível trajetória da jovem duquesa da Bavaria que, contra todas as expectativas, tornou-se a monarca europeia mais popular, muitas décadas antes da Princesa Diana ser o foco das atenções mundiais.

Elizabeth Amalie Eugenie era filha da princesa Ludovica da Bavaria, irmã da arquiduquesa Sofia da Áustria, mãe do imperador Francisco José, elevado a essa condição pela mão forte da mãe, que fez o próprio esposo renunciar ao trono em favor do filho quando este tinha apenas dezoito anos de idade. Pois para acalmar os ânimos de um império em ebulição, a mesma Sofia planejou um matrimônio com uma nobre austríaca e viu na sobrinha a esposa ideal para controlar e manipular a seu favor – não Elizabeth, mas Helena, a filha mais velha de Ludovica. Sissi, como chamavam em família a jovem Elizabeth, foi acompanhando a mãe e a irmã ao encontro do príncipe, para firmarem o compromisso e arranjarem as bodas. A história real traz elementos farsescos difíceis de não mencionar: a viagem de Ludovica com as duas filhas, de Munique ao belo vilarejo austríaco de Bad Ilsch, foi caótica e demorada; para piorar, chegou de bagagem apenas o baú com os vestidos que elas usariam no enterro de uma tia, próxima paragem da excursão. Contam as crônicas que o luto teria deixado a tímida Helena muito apagada e, ao contrário, realçado a alegria de viver e os longos cabelos loiros de Sissi…

O fato é que o jovem imperador de vinte e três anos escolheu a filha mais nova, contrariando os desejos da mãe – e assim, Elizabeth tornou-se, em 1853, imperatriz da Áustria aos quinze anos de idade, em meio a uma crise que ameaçava lançar a Europa em uma guerra envolvendo as grandes potências de então.

Sem querer adiantar muito do que a série televisiva mostra de maneira bastante acurada, Sissi ganhou aos poucos o coração de seus súditos com sua forma pouco ortodoxa de lidar com as demandas populares, a ponto de apaziguar os ânimos dos súditos húngaros ao aprender a dificílima língua em um Não era pouco em um tempo no qual a família imperial era ainda vista como divina e o protocolo na casa austríaca era tido como um dos mais rígidos da Europa. A arquiduquesa Sofia, mãe do imperador, grande articuladora política, foi também o protótipo da sogra das anedotas mais caricaturais: ela mostrava nítido desprezo pela nora, de quem chegou a fazer panfletos apócrifos na tentativa de retirá-la do trono; as duas filhas de Sissi foram tiradas de seus braços em tenra idade, pois a sogra considerava a mãe inapta para criar as princesas. Seguir contando mais maldades de Sofia – que batizou a primeira neta com seu próprio nome, à revelia dos pais – é tirar o gosto da descoberta de quem não conhece a História por traz da história.

A nova Sissi

Mas voltemos à produção televisiva, assunto deste texto entusiasmado: com raras exceções, a série Die Kaiserin (“A Imperatriz”, em português), produção alemã de 2022, é extremamente fiel aos fatos históricos. Como é de se esperar, há liberdades poéticas para o bem da dramaturgia, como sugerir triângulos amorosos que jamais aconteceram, criar personagens e intrigas palacianas que não existem nos registros históricos, até mesmo inserir um balé  moderno à Deborah Colker no casamento dos imperadores – dançando uma valsa que só seria criada décadas depois, mas que na série foi composta por Strauss Jr. para a imperatriz… Tudo isso é perdoável diante do bom roteiro e dos desempenhos impecáveis.

Phillip Froissand e Devim Lingnau são perfeitos como o trágico casal imperial, mas todo o elenco de apoio funciona muito bem dentro do tom mais soturno escolhido para a série – a comparação aqui é com “Sissi, a Imperatriz”, filme austríaco de 1955 que lançou a grande Romy Schneider ao estrelato mundial. A lembrança de Schneider não é gratuita, aliás: Lingnau, alemã, guarda uma grande semelhança com a atriz austríaca; mas a Sissi de Schneider era bem mais ingênua, em um filme que atenuava o sofrimento da verdadeira imperatriz com cenas de humor ao gosto da época; Devim Lingnau, além de ser incrivelmente parecida com a verdadeira Sissi, é mais um espírito livre que se recusa a aceitar as convenções sem expor sua opinião e seus sentimentos. A atriz traz um ar enigmático e profundo para sua Elizabeth, o que torna muito mais crível todo o enredo em torno de sua não-aceitação às normas palacianas que a reduziam a mero papel decorativo.

E que falar da direção de arte? A série é quase toda gravada em locações que foram palco dos eventos reais ali retratados. Tirando o cabelo da Helena-revoltada-por-ter-sido- preterida, uma franja e um corte curto vindos direto dos futuros anos 1970, tudo o mais parece muito autêntico e ajuda imensamente na condução do roteiro bem urdido… A primeira temporada da série está disponível na Netflix e é óbvio que virão outras temporadas desta que já consideram a resposta alemã ao The Crown britânico. O final da primeira temporada é simplesmente perfeito e marca a virada que, nos livros de História, está muito bem descrita pelas crônicas da época. E, não, não vale a pena contar aqui se o leitor ainda não conhece a vida dessa imperatriz profundamente ligada aos maiores acontecimentos.

(Robertson Frizero)

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E para ver no finde?

 

Filmes

Tenho garimpado filmes pouco conhecidos para sair da mesmice. Selecionei alguns para quem quer fazer o mesmo. Alguns são filmes de baixo orçamento, mas que entregam histórias interessantes. Só não espere ação, tiro, porrada e bomba! Não é esse tipo de filme.

 

150 miligramas – direção: Emmanuelle Bercot – 2017 – Prime Vídeo

A atriz dinamarquesa Sidse Babbet Knusen fez sucesso como a primeira-ministra da série Borgen (Netflix) e agora vem filmando em vários idiomas. Nessa produção francesa ela é uma pneumologista que observa efeitos colaterais graves em pacientes que tomavam uma droga receitada por médicos. Com ajuda de um grupo de pesquisadores ela acusa a indústria farmacêutica de esconder que o remédio pode ser letal. Só que seu adversário é muito poderoso.

Reprodução/Divulgação

 

DNA – direção: Maïwenn – 2021 – Claro TV

Essa produção francesa conta uma história delicada sobre relações familiares, o legado deixado por entes queridos e a busca de Neige por suas origens. O elenco traz dois nomes de peso no cinema francês: Fanny Ardant, em um papel diferente de suas personagens sempre elegantes e sensuais , e Louis Garrel. A trama se desenvolve a partir da morte do avô argelino de Neige, personagem interpretado pela própria diretora Maïvenn.

O filme recebeu quatro indicações ao César Awards , o principal prêmio do cinema na França, em 2021.

Reprodução/Divulgação

 

Emma – direção: Autumm de Wilde  – 2020- Netflix

Este filme já andou por aqui na coluna sobre livros de Jane Austen que viraram filmes e esteve no Now, mas só agora ele chegou à Netflix ! É a história com mais humor escrita pela inglesa, cuja obra nunca para de ser adaptada para as telas. Emma, interpretada pela Anya Taylor-Joy – uma das queridinhas de Hollywood atualmente – é uma jovem mimada e teimosa que não pretende se casar, mas quer casar todo mundo. Numa dessas atividades alcoviteiras, ela tem uma surpresa.  Essa versão  não foi muito bem recebida pela crítica, mas fez sucesso junto ao público que gosta de comédias românticas. A anterior teve Gwyneth Paltrow no papel. Acho que prefiro Anya. Emma – último romance de Jane publicado em vida – é considerado por alguns como tendo a heroína austeniana mais rebelde e “feminista”.

Reprodução/Divulgação

 

Ofélia – direção: Claire McCarthy – 2022 – Netflix/ Google Play/Apple TV

A obra do bom e velho Shakespeare também jamais se esgota. Muitas já foram as adaptações de sua peça mais famosa, Hamlet, que agora vem sob um novo olhar. A história é contada através de Ofélia, dama da rainha Gertrudes e amante do príncipe Hamlet. Os destaques do elenco são Naomi Watts, como a soberana, e Clive Owen, como Claudius, o irmão traidor de Hamlet. Ofélia é interpretada por Daisy Ridley, conhecida pela nova geração de Star Wars.

Reprodução/Divulgação

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Séries

Pearson –  1 temporada–  2022 – Prime Vídeo

A série é um spin-off de Suits – Homens de terno, que teve nove temporadas e está disponível na Netflix. Uma das curiosidades é a presença da atriz Megan Markle que se tornaria a esposa do príncipe Harry.

Pearson é derivada de Suits na pele de Jessica Pearson, a ex-chefona do escritório do Direito onde se passava a trama. Agora, expulsa da ordem dos advogados, Jessica aceita trabalhar na prefeitura de Chicago mesmo tendo que fazer concessões. O seriado lembra suas origens quando mostra advogados fazendo de tudo para ganhar uma causa, inclusive atropelar a ética e usar de chantagem. Gina Torres, do alto dos 1,78m, desfila pela série usando modelitos super elegantes. Apesar do investimento, a produtora já avisou que não haverá uma segunda temporada.

Reprodução/Divulgação

 

The Handmaid´s Tale –  5ª temporada – Paramount

Depois de quatro temporadas rumorosas, a quinta parece ter cansado um pouco os fãs pela repetição. Ou teria sido pela troca de canal de exibição? Pois agora os eventos trágicos da vida de June Osborne voltaram ao Paramount. É possível encontrar no canal  todas as temporadas da distopia que mostra o fundamentalismo religioso colocando os homens em posição de comando e as mulheres divididas em  reprodutoras ou esposas devotadas. Apoiado no assassinato do presidente dos Estados Unidos, esse grupo eleva ao máximo a opressão e a falta de liberdade. A ótima Elizabeth Moss interpreta June,  a aia rebelde que  foi obrigada a gerar um filho com o comandante, após ter sua filha sequestrada pelo regime.

Reprodução/Divulgação

 

Menino Maluquinho – 9 episódios – Netflix

Na sua semana, as crianças ganharam um belo presente da Netflix: a estreia da primeira série de animação da plataforma no Brasil. E quem chega é ninguém menos que um dos personagens mais conhecidos e carismáticos do gênero. Criado por Ziraldo, o Menino Maluquinho – o garoto da panela na cabeça, “com o olho maior que a barriga e vento nos pés” – vai viver suas aventuras em nove episódios.

Reprodução/Divulgação

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EXTRAS

21ª Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis – de 07/10 a 22/10

Desde 2001, Florianópolis é palco da importante Mostra de Cinema Infantil. Serão dezesseis dias de Festival com mais de 80 filmes entre curtas e longa-metragens  nacionais e internacionais. As exibições acontecem de forma gratuita em diversos pontos da capital, como o Teatro Pedro Ivo e o Cinema do CIC. Saiba mais aqui.

 

São Paulo Film Food Fest – Cine Belas Artes a la Carte

Quem não pode ver os filmes presencialmente tem chance de assistir online no Cine Belas Artes. São vinte e quatro documentários com a temática da alimentação. Entre eles estão Criollo- A alma da cozinha uruguaia e Meu nome é sal, uma produção de Suiça e Índia.

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THE END

cronica

 

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

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