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O guerrilheiro, os olhos azuis e as mulherzinhas

Seu Jorge em cena de "Marighella"/ Divulgação Paris Filmes

O guerrilheiro, os olhos azuis e as mulherzinhas

Apenas agora, com a inserção no Telecine/Now, tive chance de ver  Marighella, filme sobre o ex-deputado e guerrilheiro Carlos Marighella. Wagner Moura que já provou ser ótimo ator, agora mostra que é bom na direção também. Com estreia no ano passado, Marighella devia ter sido lançado em 2019, no Dia da Consciência Negra, mas enfrentou obstáculos junto à Ancine- Agência Nacional do Cinema e outros órgãos que, segundo os produtores, tentaram boicotar a exibição por causa do biografado. Adiado várias vezes no seu país de origem, o filme acabou sendo visto primeiro no Festival de Cinema de Berlim.

Wagner não teve reservas em retratar o lado mais humano e positivo do personagem que foi considerado “ o inimigo público número um do Brasil” durante o regime militar. Criador da ALN – Aliança Libertadora Nacional, o parlamentar cassado e defensor da luta armada, foi executado a tiros pela força policial coordenada pelo polêmico delegado Fleury Filho. O diretor foi acusado de ter distorcido os fatos a favor do biografado. Depois de ver o filme, li registros históricos e comparação entre ficção e realidade para tirar minhas próprias conclusões. Coisas de menor importância são contestadas, como a idade do filho de Marighella. No filme, ele tinha 15 anos quando o pai foi morto, na vida real tinha 21 anos. Outros dados nessa linha foram alterados no roteiro.

Nas telas, o guerrilheiro foi vivido por Seu Jorge, escolha criticada porque o ator tem a pele mais escura que o verdadeiro. Ele se saiu muito bem no papel. Interpretando o delegado, um Bruno Gagliasso que em nada lembra o galã da Globo. Foram boas surpresas e sinal de que Moura é competente diretor de atores.

Marighella estreou em um momento de tensão política no país, com direitistas pregando boicote ao filme. Alheio a isso, o público transformou a obra de Wagner Moura na maior bilheteria nacional durante a pandemia e o quarto colocado no geral, concorrendo com os blockbusters americanos de super-heróis. O filme também chegou quando apoiadores do atual governo louvam a ditadura militar, criando uma falsa imagem nas gerações que – felizmente – não chegaram a vivenciar os anos de chumbo. Marighella é importante por jogar um pouco de luz naquele período. A partir daí, o espectador interessado poderá pesquisar para saber mais sobre os vinte e um anos do governo ditatorial e tirar suas próprias conclusões.

Veja o trailer.

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FILMES

Olhos azuis – direção: José Joffily – 2010 – Canal Brasil

Reprodução/Divulgação

Para mim, esse é um dos melhores filmes brasileiros da última década. Ele não é novo, mas seu tema está na ordem do dia. Um grupo de latino-americanos é detido pelo chefe do Departamento de Imigração em um aeroporto de Nova York. Marshal está prestes a se aposentar e o fato de ser seu último dia de trabalho não impede que seja truculento e submeta os imigrantes a situações constrangedoras. O resultado desse preconceito é drástico. Movido pela culpa, Marshall vem ao Brasil  em busca de uma criança no sertão nordestino. Agora ele é o estrangeiro. Nesta procura, ele é ajudado por uma garota de programa brasileira.

Uma coisa curiosa é que o filme deu ao norte-americano David Rasche, conhecido mais como ator de comédias – como a série Na mira do tira– um papel altamente dramático. Ele não deixa a desejar na pele do oficial da Imigração. O longa ganhou os prêmios de Melhor Filme, Roteiro, Montagem, Atriz, Ator Coadjuvante e Som no II Festival de Paulínia (2009).

 

Meu país – direção: André Ristum – 2011 – Canal Brasil

Reprodução/Divulgação

Um filme delicado e sensível que reúne nomes bem conhecidos do público. Rodrigo Santoro é Marcos, um brasileiro que vive na Itália. Ele recebe a notícia da morte do pai e viaja para o Brasil para os funerais, onde reencontra o irmão caçula , o mimado Tiago, vivido por Cauã Reymond.  Os dois irmãos descobrem uma irmã, Manoela, com problemas mentais que durante vinte anos foi escondida pelo pai. Ela precisa deixar o manicômio e eles passam a conviver com ela, apesar da contrariedade de Tiago. Através da irmã,  Marcos vai redescobrindo a si mesmo, à família e a importância de estar no seu país de origem. Debora Falabella, como Manoela, e Paulo José no papel do patriarca completam o elenco estelar.

 

Passei por aqui – direção : Babaki Anvari  – 2022 – Netflix

Reprodução/Divulgação

Saindo do Brasil e indo para o Reino Unido falar de suspense. A trama é centrada em Toby, um jovem grafiteiro que com a ajuda de um amigo invade casas ricas e deixa sua assinatura contestatória na parede: estive aqui. Um dia, ele invade a casa de um famoso juiz aposentado, famoso por defender refugiados e  ser considerado um “santo”. Toby descobre que não é bem assim e, depois de pedir ajuda à polícia sem sucesso, resolve ele mesmo desvendar e expor o que se esconde no casarão do magistrado. Hugh Bonneville, no papel do ex-juiz, em nada lembra o elegante nobre da série Dowton Abbey. Toby é interpretado por George MacKay, conhecido pelo ótimo filme de guerra, 1917.

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SÉRIES

O senhor dos anéis: Os anéis de poder – Prime Vídeo – 2022

Reprodução/Divulgação

Finalmente, depois de uma longa espera, os fãs da saga puderam acompanhar a estreia de O senhor dos anéis: Os anéis do poder, adaptação das obras de J.R.R. Tolkien durante a segunda era da Terra Média. O que diz a sinopse da série mais cara já produzida pela Amazon/Prime: Um grupo variado de personagens, conhecidos e novos, precisa enfrentar o ressurgimento do mal na Terra-média. Das profundezas mais escuras das Montanhas Nevoentas às majestosas florestas de Lindon; do Reino da Ilha de Númenor aos cantos mais longínquos do mapa, esses reinos e personagens vão forjar legados que irão perdurar muito além de suas existências.

Isso pode soar estranho a quem nunca leu ou viu O senhor dos Anéis, mas os fãs sabem do que estou falando.

Por falar nisso, quem parece não ter gostado do resultado da nova série foi o bilionário Elon Musk . Segundo ele, “Tolkien deve estar se revirando no túmulo; são personagens covardes e idiotas”. É bom que se diga que Musk tem uma velha rixa com Jeff Bezos, dono da Amazon. O público cativo que não liga para a opinião do bilionário deu à Amazon/Prime a maior audiência da sua história.

 

Little Women – 3 episódios –  Starzplay (Prime Vídeo ou Now)

Reprodução/Divulgação

O famoso romance de 1868, de Louisa May Alcott, foi adaptado para o cinema várias vezes. Só agora chega no streaming brasileiro a minissérie da BBC, produzida em 2017, que reúne em seu roteiro Mulherzinhas e também o romance seguinte de Alcott,  Good Wives. A história mostra o crescimento de quatro irmãs , Meg, Jo, Beth e Amy, muito diferentes entre si, mas unidas pelo afeto da mãe, Marmee. Elas pertencem a uma família classe média na época da Guerra Civil Americana. Há demonstrações de amor, de egoísmo, de rebeldia. Jo é a irmã um pouco à frente de seu tempo, com questões contemporâneas, lembrando que os livros foram escritos no século XIX. O elenco é bem interessante e meu destaque vai para Samantha Morton, que faz a matriarca.

 

Top of the lake –  6 episódios – TNT Séries

Esta série de suspense não teve o merecido reconhecimento e agora a primeira temporada volta no TNT. Primeiro grande trunfo:  é de Jane Campion, a diretora neozelandesa de  O Piano e Ataque dos cães. Segundo: a protagonista é Elizabeth Moss, a ótima atriz de O conto de Aia e Mad Men. No elenco, a presença luxuosa de Nicole Kidman e outros bons intérpretes como a experiente Holly Hunter e Gwendoline Christie ( de Game of Thrones). Elizabeth Moss é a detetive Robin Griffin  que precisa descobrir o que aconteceu com Tui Mitcham, uma menina neozelandesa de doze anos que tentou suicídio e depois desapareceu. Ao investigar o sumiço da garota, Robin descobre os segredos da pequena cidade e fica obcecada em deslindar o mistério.

Espero que o TNT disponibilize também a segunda temporada.

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EXTRAS

Cerimônia de entrega do 74ª Emmy Awards- dia 12/09 – Canal TNT

Reprodução/Divulgação

Na segunda-feira (12) conheceremos as séries e filmes vencedores do Emmy deste ano. As cerimônias de premiações andam meio decadentes nos EUA, como o Globo de Ouro e o próprio Oscar, mas o Emmy Awards ainda tem um certo prestígio.  Algumas das séries indicadas: Better Call Saul (Netflix), Succession ( HBO) e Round 6 (Netflix).

 

Brasil escolhe “Marte Um” para concorrer à indicação ao Oscar de 2023

Reprodução/Divulgação

O mineiro Gabriel Martins é o diretor do filme escolhido para representar o Brasil na briga por uma vaga ao Oscar de Melhor Filme Internacional. A história acompanha uma família negra, do interior de Contagem, Minas Gerais, em busca de seus sonhos e enfrentando a chegada de um governo de extrema-direita. Vamos torcer para Marte Um quebrar o jejum que vem desde 1998, quando Central do Brasil  concorreu ao Oscar de Melhor Produção Internacional.

 

“Nada de Novo no Front” é a aposta da Alemanha para o Oscar

Reprodução/Divulgação

Enquanto isso, a Alemanha resolveu inscrever o remake de Nada de novo no front como candidato a uma vaga no Oscar Internacional. O longa é baseado no best-seller de Erich Maria Remarque e já  rendeu dois filmes em 1930 e 1979 ( ambas versões estão no YouTube Filmes). A trama conta a história de um jovem soldado alemão durante a Primeira Guerra Mundial. Nas trincheiras, lutando pelas próprias vidas, ele e seus colegas sentem como a euforia inicial da guerra se transforma em desespero e medo. O livro de autor alemão ia contra a ideia romantizada da guerra, tão comum à literatura e às produções norte-americanas.

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FIM

cronica

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

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