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Presente de Grego para Florianópolis

Presente de grego é uma expressão popular usada para representar o recebimento de algum presente ou dádiva que traz prejuízo para quem a recebeu, ao contrário do que era esperado. Esta expressão faz referência ao Cavalo de Troia, um famoso episódio descrito na Ilíada de Homero e assim acontece com o novo texto para o Plano Diretor de Florianópolis.

Missão dada, missão cumprida! A mesma câmara de vereadores, que foi contra o ato simbólico de conceder o título de cidadão honorário a Gilberto Gil (um dos maiores artistas brasileiros de todos os tempos), aprovou o novo Plano Diretor sem analisar com profundidade os direcionadores para a ocupação urbana. O primeiro ato é simbólico e por si só não gera problemas os colapsos, porém o Plano Diretor sim.  Os vereadores optaram por priorizar o crescimento sem considerar os aspectos técnicos do planejamento urbano, cujo principal objetivo é “planejar e construir espaços que minimizem problemas decorrentes dos processos de urbanização, como poluição e engarrafamentos”.

Foto: Lama invade ruas do Córrego Grande em Florianópolis / Crédito: reprodução internet

Perguntas importantes para refletir: Qual a chance de uma área suscetível a desmoronamento desmoronar? Qual a chance de uma área suscetível a alagamento alagar? Se for permitido construir nessas áreas, qual a chance de uma catástrofe acontecer? Uma lógica cruel entre o que se quer permitir fazer com o novo Plano Diretor e o que de fato as condições geográficas e de infraestrutura disponível permitem que seja feito. A decisão da maioria dos vereadores de Florianópolis foi comemorada como vitória por segmentos empresariais que parece que nada entendem sobre o novo capitalismo, sobre negócios lucrativos que crescem enquanto tem o propósito de acabar com a pobreza e com respeito o meio ambiente.  Para eles o atraso é apenas impedir o crescimento, preservar o meio ambiente e aprovar novo Plano diretor mesmo sem a execução de obras de infraestrutura. Será que esses vereadores que aprovaram o novo Plano Diretor, não circulam pelas ruas congestionadas da Capital?  Não percebem o caos em dias de chuvas e os perigos constantes de desmoronamentos nas áreas de risco e os alagamentos? Eles votaram a favor do projeto sem se preocupar com as consequências. É a lógica do “passar a boiada” replicada.

A verticalização da cidade consiste em ampliar a permissão para a construção de prédios mais altos e com o maior número de habitações, implica em maior volume de pessoas e carros em circulação. O trânsito por aqui já é caótico, o sistema de esgoto insuficiente, o abastecimento de água muitas vezes falho, a balneabilidade das praias é sofrível. Em janeiro, por exemplo, dos 87 pontos analisados na Capital, apenas 34 pontos eram considerados próprios, segundo o Instituto do Meio Ambiente – IMA.

Soluções possíveis. Não se trata de barrar o desenvolvimento, mas estudar profundamente as soluções possíveis para que a cidade cresça ancorada em infraestrutura (estradas, saneamento básico, transporte público, água, iluminação, etc.) e na preservação do meio ambiente. Questões técnicas foram negligenciadas pela possibilidade de especulação imobiliárias: qual o planejamento para a mobilidade e o aumento do fluxo de pessoas e carros? Há planejamento para ampliação do sistema de esgoto? Como vai ficar o escoamento de água das chuvas com a maior ocupação do solo pela construção civil?

Foto: Movimentos populares ocupam o auditório Antonieta de Barros durante audiência do Plano Diretor de Florianópolis / Crédito: reprodução internet.

Consulta pública para inglês ver. Foram realizadas audiências públicas em todos os distritos como “caráter consultivo e têm por finalidade informar, colher dados, subsídios, informações, sugestões e críticas acerca das justificativas e respectivas propostas de revisão e adequação do Plano Diretor de Florianópolis”. No entanto, o que se viu foi apenas o cumprimento da agenda sem ouvir de fato o que a população tinha a dizer. Fato que se traduz em falha grave em gestão do conhecimento, falta de aproveitamento do capital intelectual disponível, falta do aproveitamento de boas práticas na gestão ambiental. A memória é de curto prazo, mas as mazelas da articulação política que se fazem em relação à verticalização da cidade serão duramente sentidas. A deterioração da mobilidade urbana e os perigos de catástrofes ambientais serão potencializadas num futuro bem próximo, com o aumento dos congestionamentos, alagamentos, “desastres naturais”, poluição das águas, etc. E quando isso acontecer é necessário lembrar os nomes dos representantes públicos que por ora negligenciam o bom senso e as leis naturais que regem a própria natureza. O futuro e a qualidade de vida em Florianópolis estão em jogo.

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