Portal Making Of

Sorria, você está sendo filmado

Sorria, você está sendo filmado

                              Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo? (Fernando Pessoa)

 

Há algo nas fotografias antigas que sempre me intrigou: o ar sério, quase sorumbático, das pessoas. Voltei a pensar nisso porque hoje vivemos a era dos sorrisos fartos nas imagens. Se antes parecia proibido dar sequer meio sorriso na hora do “olha o passarinho”, agora ele é obrigatório e incentivado por “diga xis, diga alface, diga uísque”!

Hoje, quando abrimos as redes sociais vemos a alegria estampada nos rostos, muitas gargalhadas, brindes com espumante rosé à beira da piscina ou na festa mais badalada da cidade. Todos parecemos tão eufóricos!

Não tenho conhecimento científico para entender a mudança. Deixo para os acadêmicos das áreas de antropologia, sociologia ou filosofia, sei lá, estudarem o fenômeno. Não, não estou cobrando nada por sugerir este tema para o TCC de algum aluno mais destemido.

Espero que o resultado da pesquisa seja o de que estamos realmente mais contentes com a vida, em relação às gerações anteriores às nossas. A não ser isso, o que seria? Nosso orgulho nos fazendo querer aparentar um bem-estar constante? A necessidade de mostrar “hei, olha como me dei bem?”. Meras especulações de minha parte. Os acadêmicos saberão responder melhor que eu.

O problema dessa euforia é quando ela atinge o espírito de alguém que sente-se infeliz. A criatura acha que é a única fracassada. Isso remete a um dos meus textos favoritos de Fernando Pessoa, sob o heterônimo de Álvaro de Campos, “Poema em linha reta”. Começa assim: Nunca conheci quem tivesse levado porrada./Todos os meus conhecido têm sido campeões em tudo. E mais adiante (…) Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida…

Só lembrando, Pessoa morreu em 1935. Imaginem se ele tivesse vivido na época das redes sociais.

[Brígida De Poli]

_________________________________________

MICROCONTOS

Em 08 de março, Dia Internacional da Mulher, o desafio proposto pelo escritor Robertson Frizero, mentor do coletivo Literatura Mínima, foi escrever um microconto sobre mulheres, suas lutas e conquistas em exatas OITO palavras. Aqui, alguns resultados.

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

Compartilhe esses posts nas redes sociais:

Com açúcar, com afeto

Com açúcar, com afeto Memória afetiva é definida como “aquela lembrança que surge por meio de elementos sensoriais e emocionais. Ela é ativada através de

Cuidado, você está sendo filmado

Cuidado, você está sendo filmado Em 1993, o cinema já antecipava em “Invasão de Privacidade”, de Phillip Noyce, o voyeurismo crescente das décadas seguintes. O

Para La Negra, com amor

Para La Negra, com amor Em 09 de julho de 1935, nascia na Argentina uma das maiores cantoras do século XX. Aproveito a data para

Algo deu errado na casa dos Gucci

Algo deu errado na casa dos Gucci Finalmente assisti “Casa Gucci”, de 2021, que mostra um recorte biográfico da família fundadora da importante grife italiana.

O TOMBO

O TOMBO A senhora corpulenta, envolta em sua echarpe de“Iris” do van Gogh, começa a levantar-se para ir ao buffet quando ….paft…a perna da cadeira

Viva o streaming!

Viva o streaming! Como “cinéfila-raiz” resisti a me entregar totalmente ao sistema de streaming para ver filmes importantes. Sempre considerei que eles deviam ser vistos

LITERATURA E SOLIDARIEDADE

LITERATURA E SOLIDARIEDADE A coluna Crônica&microcontos faz uma pausa esta semana. Enquanto isso, o Projeto Literatura Mínima  está finalizando a coletânea “EntreLugar”.  O livro reunirá