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Tudo pela vida

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Nos últimos tempos a questão do cuidado paliativo ganhou espaço no Brasil, e daqui para frente a tendência é que se torne ainda mais presente nas preocupações da sociedade. Por isso, hoje a coluna é dedicada a este assunto que vem revolucionando os cuidados com os pacientes acometidos de doenças graves e muitas vezes irreversíveis. De acordo com a Organização Mundial da saúde (OMS), o conceito definido em 1990, e atualizado em 2002, cuidados paliativos consistem na assistência promovida por uma equipe multidisciplinar, com a finalidade de melhorar a qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doença que ameace a vida, através da prevenção e o alívio do sofrimento, identificando de forma precoce e com avaliação criteriosa o melhor tratamento de controle da dor e demais sintomas físicos, psicológicos e espirituais, entre outros.

Em 2018, o Ministério da Saúde publicou uma resolução que normatiza e oferece os cuidados paliativos no Sistema Único de Saúde (SUS). Mas de acordo com a Academia Nacional de Cuidados Paliativos, apenas cinco por cento dos hospitais brasileiros com mais de 50 leitos têm equipes para fazer o atendimento. Na rede hospitalar privada não há dados sobre quantos hospitais oferecem o serviço no país, mas sabe-se que é feito em algumas unidades, as mais estruturadas.

Em Santa Catarina, já existem iniciativas bem-sucedidas, principalmente na área pública.  É o caso do Hospital Geral Celso Ramos, em Florianópolis, que desde março de 2021 conta com uma equipe multidisciplinar de cuidados paliativos, com médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, assistentes sociais, psicólogos, fonoaudiólogos e nutricionistas. Segundo dados da equipe, de março até aqui, mais de 200 pacientes foram atendidos, acometidos de várias doenças.


equipe multidisciplinar ” CUIDADOS PALIATIVOS”  Hospital Celso Ramos de Florianópolis / foto DIVULGAÇÃO          

O trabalho da equipe no Hospital Geral Celso Ramos começou de forma muito significativa, como conta a médica geriatra Angela Bueno Becker. Segundo ela, tudo começou com uma paciente vítima de AVC, que precisava de uma máquina para respirar, mas não dependia de UTI, num momento em que as Unidades Intensivas de Tratamento tinham maior demanda por causa da Covid. De acordo com a Dra. Angela, houve uma quebra de paradigmas, foi implementado o tratamento paliativo e a paciente permaneceu no hospital recebendo todos os cuidados. A paciente chegou a ter alta, recentemente faleceu, mas com todo o conforto dos cuidados paliativos.

Foi a partir desse caso que a equipe foi se estruturando, aprendendo e não parou mais, consolidando e evoluindo nos cuidados paliativos dentro e fora do hospital.

O Hospital Celso Ramos é uma unidade hospitalar de alta complexidade, que recebe muitos pacientes portadores de doenças graves, como câncer, AVC, insuficiência cardíaca, entre outras.

A Dra. Angela diz que muitas dessas doenças acometem pessoas de todas as idades, muitas não vão resistir, outras vão enfrentar os tratamentos e até receber alta.

É neste contexto que entram os cuidados paliativos, sem procedimentos invasivos, que provoquem ainda mais dor física e psicológica nos pacientes e familiares.

Todos da equipe e família são envolvidos numa corrente de solidariedade, com transparência da situação de cada caso, permitindo que ao longo do tratamento o conforto seja a palavra chave para manter a vida do paciente com o máximo de dignidade, fala a geriatra. Ela diz ainda que cuidar de um paciente com um olhar paliativo significa não adotar medidas desproporcionais à sua condição de recuperação, que prolonguem ou causem sofrimentos desnecessários. É tratar os sintomas e não a doença e aceitar a morte quando ela for inevitável. Mas é bom saber que pacientes paliativos também melhoram e recebem alta, acrescenta a médica.

E cada data é especial, como aniversário ou alta do paciente, por exemplo, sempre celebrada,  reunindo a equipe  dos cuidados paliativos, familiares e amigos.


celebrações pela vida – equipe dos CUIDADOS PALIATIVOS / fotos DIVULGAÇÃO

Não existe um protocolo único, os procedimentos são sempre individualizados, explica a médica cardiologista Daniela Cerqueira Campos, integrante da equipe de profissionais dos cuidados paliativos. Segundo ela, cada paciente reage de uma forma à doença e ao tratamento, diferentes complexidades precisam de cuidados específicos, que estão ao alcance necessários para os melhores resultados. Segundo ela, é importante levar em conta que dor, falta de ar e outros problemas decorrentes de cada doença devem ser sempre contornados com diferentes avaliações e métodos. A Dra. Daniela fala também da importância no cuidado sobre como informar o paciente e a família sobre o diagnóstico de uma doença irreversível. Ela diz que o diagnóstico já deve estar envolvido nos cuidados, a forma de dar a notícia ao paciente e familiares pode alterar completamente o desenvolvimento do cuidado paliativo, dando a oportunidade para que todos participem do processo com mais clareza e menos sofrimento.

Outro tema que ela destaca é o acompanhamento em casa, quando o paciente recebe alta e a família precisa estar preparada para dar continuidade aos cuidados paliativos.

Por esta razão, é que os familiares devem estar presentes no aprendizado junto ao hospital, na construção de uma rede de acolhimento e solidariedade. A médica é taxativa quando diz que “a pior dor é a dor do abandono”.

A equipe de Cuidados Paliativos está sempre em treinamento, buscando se atualizar sobre tudo o que envolve os avanços e melhorias para dar mais qualidade de vida aos pacientes. Além da equipe especializada do hospital, o trabalho conta ainda com voluntários da comunidade que auxiliam na busca do bem-estar dos pacientes. A Dra. Daniela faz questão de lembrar, caso o paciente necessite voltar a ser internado, a equipe vai atuar para garantir uma vaga no hospital.


treinamento dos envolvidos nos CUIDADOS PALIATIVOS / foto DIVULGAÇÃO

A implantação da equipe de cuidados paliativos recebeu o apoio da direção do Hospital Celso Ramos logo que foi acionada pelos idealizadores. A diretora do hospital, Elisângela Scheidt Roncalio, que assumiu a direção geral do hospital há cerca de um ano, de imediato entendeu a relevância do serviço e se juntou ao trabalho de implementação. Segundo ela, por ser o Celso Ramos um hospital público, nada mais correto que oferecer cuidados paliativos, independente de classe e condições econômicas e sociais. Segunda ela, o Brasil começou tarde, mas aos poucos os tratamentos paliativos ganham espaço nas estruturas hospitalares e espera em breve ver um aumento substancial de equipes atuando, cada vez mais preparadas e conscientes da necessidade de ampliar as chances de sobrevida dos pacientes.    

Segundo ela, jovens ou idosos, a atenção e acolhimento devem ser para todos e quanto mais precoce for o começo dos cuidados paliativos, maiores são as chances de resultados e prolongamento da vida.


ELISÂNGELA SCHEIDT RONCALIO
Diretora do Hospital Geral Celso Ramos

O mês de outubro marca o Dia Internacional dos Cuidados Paliativos, celebrado no último dia 9, e a equipe está preparando o Primeiro Encontro de Cuidados Paliativos do Hospital Celso Ramos, que será realizado no final do mês. Será uma oportunidade de reciclar os conhecimentos e pensar em novas medidas para ampliar ainda mais os cuidados paliativos.  @hospitalgovernadorcelsoramos

Hoje a coluna foi especial e agradeço aos entrevistados do Hospital Celso Ramos pela oportunidade de aprender sobre um tema de extrema relevância. Enquanto a ciência avança na busca das curas, vamos sempre lembrar do amor como um dos grandes cuidados pela vida. Na próxima quarta voltamos com os assuntos diversificados sobre gente e lugares.

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

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