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TV Gaúcha x TV Guaíba

Foto: Reprodução/YouTube
Antônio Britto, jornalista, ex-governador e ex-ministro da previdência, colega dos primeiros anos de profissão, lembrou em recente vídeo sua contratação pela TV Gaúcha em 1978. Disse que a família Sirotsky o chamou para remontar a equipe de telejornalismo com receio da TV Guaíba que estava por ser lançada.
Na rua Caldas Jr. 219, onde era editado o do Correio do Povo e sede também da Rádio Guaíba, quase na mesma época, o dono da companhia, Breno Caldas me chamou na sala dele, certa tarde, e me disse que deveria assumir o jornalismo da TV. Uma grande surpresa, pois esse assunto jamais havia passado pela minha cabeça, nem havia qualquer indício que poderia acontecer.
Logo em seguida, Dr. Breno – como era chamado respeitosamente e às vezes temerosamente por todos – pegou ser Mercedes branco e me levou até a sede da TV, no morro Santa Tereza. Foi a primeira e única vez que estive em um carro dirigido por um mito.
Chegando lá, ele nos apresentou – Clóvis Prates, mineiro experiente profissional com atuação na Globo e na Gaúcha, encarregado de montar a programação – e a mim, dizendo a ele “este será o chefe de jornalismo.”
O prédio da TV zunia de novo. Tudo de primeiro qualidade, equipamentos, estúdios – um grande para programação geral e um só para jornalismo. As salas de direção, inclusive minha, tinham uma ampla janela panorâmica para o por do sol do Guaíba.
Só tinha um detalhe: eu jamais havia entrada em um prédio de TV – a não ser certa vez para assistir um programa de auditório da Gaúcha – “Viva o Gordo”. Não sabia nada do produto, o que resolvi chamando para cargos de edição profissionais experientes de mercado, Vera Zílio e Lígia Tricot.
Mas o detalhe principal é que os equipamentos portáteis do jornalismo estavam com a entrega atrasada e só iriam chegar seis meses após a inauguração do canal em 1979. A princípio, a emissora tinha sido pensada para trabalhar com filme e havia no térreo instalações caríssimas para isso. Quem montou o projeto estava muito mal informado de que o futuro do meio, que era vídeo e não filme.
Havia uma enorme expectativa na comunidade, que acabaria revertida, sobre o produto da TV Guaíba, por associação com a vitoriosa programa da rádio de mesmo nome. E também imaginavam que a programação de filmes seria espetacular, quando Prates só tinha conseguido comprar “Cassino Royale,” apresentado na noite de estreia. Não havia cacife para outras compras, pois a competição com as redes nacionais tornava o preço no mercado internacional impraticável.
Aí, o grande problema.  A TV Guaíba, na época, era uma emissora solitária, sem apoio de rede, porque Breno Caldas não aceitou a proposta da família Marinho para ser afiliada da Globo no Rio Grande do sul. Mais: deu um chá de banco em enviado da família que se sentou em um banco na entrada principal da TV Guaíba à espera dele, que nunca apareceu.
O velho temia perder o poder que tinha sobre os gaúchos.
Quando soube desse fato, a família Sirotsky captou o interesse da Globo e se tornou a afiliada mais poderosa da Globo, sepultando de vez a possibilidade de sobrevivência da Caldas Jr. A esta altura começava a ter problemas de caixa devido, aos imensos investimentos nos equipamentos RCA da TV feito em dólares e as contantes desvalorizações da nossa moeda.
A TV Guaíba resistiu por um tempo, até ser vendida pela Record. O poderoso Bren Caldas afundou a empresa com ele. Também eu resisti um tempo lá, saindo em meio a crise que se seguiu.
Enquanto lutávamos pelo produto local conseguimos mesmo sem equipamento portátil de jornalismo, vencer um prêmio da Associação Riograndense de Imprensa (foto), editando em equipamentos quadruplex – que rodava a faixa dos intervalos comerciais. Foi um especial sobre a vida às margens do guaíba, produzido pela jornalista Tânia Krutschka, que recebeu o troféu Negrinho do Pastoreio, de Xico Stockinger.
Foi um belo aprendizado de TV, onde o script de telejornais era rodado de mimeógrafo. Lá, tive a base que me ajudou assumir a TV Catarinense, anos depois. Mas isso é para texto em outro dia.
(Este texto-depoimento foi estimulado pelo editor de Making Of, João Souza, e pelos amigos Nilson Souza e Ana Cassia Henrich. Haverá outros? Quem sabe, mas a leitura deles está garantida, pelo menos)

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