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A palavra ‘cão’ não morde?

A palavra 'cão' não morde?

A frase “a palavra cão não morde” já foi usada, abusada e tomada em vários sentidos não pretendidos por Aristóteles. Com todo respeito ao grande filósofo grego, acho que vou fazer o mesmo.

Lembrei da reflexão dele pela constatação, meio óbvia, de que hoje uma única palavra pode não só “morder”, como “cancelar” alguém ou alguma carreira profissional. Nas redes sociais estão os fiscais, o júri e os juízes da palavra mal dita.

Sou bastante atenta ao uso dos termos corretos. Meu critério é o de levar em conta o sentimento de quem reclama, não importando se às vezes acho exagerado ou equivocado o significado atribuído a determinada palavra. Mas não basta ser cuidadosa. É preciso estar sempre se atualizando sob risco de “pisar na bola”.

Conto um episódio para vocês entenderem melhor a que me refiro. Usei em uma rede social o termo “portadora de deficiência”, achando que estava adotando a expressão correta em lugar da antiga “deficiente”. Cinco minutos depois levei um puxão de orelhas. – Não é portadora de deficiência, é pessoa com deficiência, corrigiu a internauta. Não vou transcrever a falta de delicadeza no teor da mensagem, mas era do tipo “arrá, te peguei”! Em seguidinha, a bronca ganhou dezenas de likes. Todos a postos para endossar a crítica à ignorante que não conhecia o termo correto.

Não sei se a comentarista era pessoa com deficiência, tinha alguém próximo com deficiência ou era mera caçadora de erros na internet, mas preferi pedir desculpas e encerrar a celeuma. Mesmo assim, a polêmica prosperou ao redor de minha mensagem original, com acusadores e defensores.

Resumo da ópera: sou alguém que ama palavras. Tenho um vocabulário bastante razoável, onde residem algumas antiguidades pelo simples fato de gostar delas. Sou respeitosa e atenta a expressões que podem ser ofensivas. Nem isso me impediu de cometer uma “infração” vocabular. Ao final, não sei bem se mordi, fui mordida ou ambos. Só me resta tomar uma vacina antirrábica e anotar a lição tão “delicadamente” ensinada. Vivendo e aprendendo. Sempre.

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Microconto de domingo

 

Estranha Vida. O desafio proposto pelo escritor e professor Robertson Frizero ao grupo do @literaturaminima: um microconto de 50 palavras sobre alguma notícia estranha publicada nos jornais. A notícia deveria servir apenas como inspiração, podendo inclusive receber um final diferente do que, de fato, aconteceu.

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