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A aposentadoria do ‘durão’ delicado e o que tem para ver no fim de semana

As muitas faces da lenda Clint Eastwood (Foto: Reprodução)

Nos anos 60, nos acostumamos a vê-lo no ‘ gênero’ criado por Sérgio Leone, o western spaghetti. A trilogia dos dólares, “Por um punhado de dólares, “Por um punhado de dólares a mais” e “ Três homens em conflito” abriram definitivamente as portas do estrelato para Clint Eastwood. Sua figura esguia e sua cara impenetrável foi se tornando cada vez mais famosa no mundo inteiro com a ‘ Marca da Forca’ e ‘Os Aventureiros do Ouro’, além dos filmes de ação como ‘Meu Nome É Coogan’ e ‘O Desafio das Águias’. Em 71, ele encarnou o papel do detetive Harry Callahan, também conhecido com Dirty Harry, em “Perseguidor Implacável “ , voltando ao personagem mais quatro vezes, em “Magnum 44”, “Sem Medo da Morte”, “Impacto Fulminante” e “Dirty Harry na Lista Negra”. Na mesma década, Clint fez também ‘Os Abutres Têm Fome’, ‘O Estranho Sem Nome’ e ‘Josey Wales – O Fora da Lei’.

Além de atuar, o ‘ durão’ das telas decidiu alçar outros vôos e dirigiu o curta documental ‘ O estranho que nós amamos- o contador de histórias’ sobre os bastidores da película que solidificou seu nome. Quase ao mesmo tempo, ele dirigiu ‘ Perversa paixão’.  A partir dali, Eastwood nunca mais parou de dirigir. Ele estrelou a maioria dos filmes que dirigiu, como ‘ Escalado para morrer’, ‘ Rota suicida’ e ‘ O destemido senhor da guerra’.

Mas, em 1988 , Clint Eastwood saltou para outro patamar como cineasta, ao dirigir ‘ Bird ‘, sobre o músico americano, Charlie Parker. Fã de jazz, o diretor contou a história trágica do saxofonista genial, morto aos 34 anos por overdose de heroína. Lembro de ter chorado rios no cinema e saído da sessão admirando o “ durão” Eastwood. O filme revelou um grande ator no papel título, Forest Whitacker.

Em 1995,  Clint dirigiu um dos filmes mais delicados a mostrar a história de amor entre pessoas na maturidade, um tema não muito comum no cinema. Ao lado de Meryl Streep, ele interpreta o fotógrafo da National Geographic, Robert Kincaid, escalado para fotografar as pontes de Madison, em Iowa. Lá, ele conhece, por acaso, Francesca, uma dona de casa que passa o fim de semana sozinha depois que a família foi fazer uma pequena viagem. Os dois se reconhecem como almas gêmeas e vivem um intenso e rápido romance. Robert quer que Francesca parta com ele, mas ela jamais abandonaria a família. O diretor conseguiu a dose certa de emoção e delicadeza, sem apelar para o dramalhão, e “As pontes de Madison” foi parar na lista dos meus cem filmes da vida.

Falei dos meus dois filmes favoritos de Eastwood como diretor, mas ele fez grande sucesso com outros títulos. Em 1992, levou o Oscar de Melhor Filme e Melhor Direção por “Os Imperdoáveis”; em 2005, foi a vez de levar as duas estatuetas principais por “ Menina de ouro”, mais Melhor Atriz para Hilary Swanke e Melhor Ator Coadjuvante para Morgan Freeman.

Clint é um trabalhador obstinado e produziu vários filmes de qualidade, como “ Invictus”, “ Cowboys do espaço”, “ Sobre meninos e lobos”, “ A Troca”,  à meia-noite no jardim do bem e do mal”, “ J.Edgar”, “ Cry macho”, “ A Mula”, entre outros. No ano passado, depois do lançamento de ‘ A Mula”, onde é o protagonista, ele avisou que não iria mais atuar.

Agora, em 2024, às vésperas de fazer 94 anos, o ícone anuncia que seu próximo filme será o último da carreira. Trata-se de “ Jurado nº 2”, com Nicholas Hoult e Toni Collette , um drama jurídico que se passa durante o julgamento de um assassinato. Hoult é o jurado que percebe que pode ter causado a morte da vítima e precisa decidir se tenta manipular o júri para se safar ou não.

Será seu 40º filme. Depois disso, a lenda se aposenta. Será?

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DESTAQUES DA SEMANA NAS PLATAFORMAS

 

FILMES

Zona de interesse – direção: Jonathan Glazer – 2023 – Prime Vídeo

Não entendo a Amazon Prime não divulgar com alarde a chegada no seu acervo do vencedor no Oscar como melhor filme internacional. Bem, então a coluna avisa vocês: “ Zona de interesse” já está disponível. O filme mostra a história de um oficial nazista Rudolf Höss e sua numerosa família, vivendo em uma casa à beira de um lago, cercada de jardins, tendo como vizinho o campo de concentração de Auschwitz. Enquanto, as lindas crianças loirinhas correm pelo jardim, as mulheres da casa dividem roupas e jóias coletadas das judias mortas e incineradas. Não há a menor empatia pelo que acontece do outro lado do muro, salvo o incômodo das cinzas poluindo o lado idílico onde o pai pesca com seus filhos. Esse mesmo pai amoroso é responsável por testar e implementar métodos de extermínio dos prisioneiros judeus, a mando de Adolf Hitler.

Nem todo mundo gostou do filme por causa de seu ritmo lento e , talvez acostumados às versões do cinema americano para o holocausto, sintam falta de uma tragédia mais visual. Mas, um dos trunfos de “ Zona de interesse” é exatamente esse: mostrar sem mostrar. Outro ponto importante é a atuação de Sandra Hüller, como a ambiciosa esposa de Höss, atriz que vimos há pouco no ótimo “Anatomia de uma queda”, papel pelo qual concorreu ao Oscar este ano. “Zona de interesse” ganhou também o Oscar de melhor som, elemento importantíssimo para retratar o horror do outro lado do paraíso doméstico da família nazista.

 

 

Verdades dolorosas – direção: Nicole Holofcener – 2024 – Max e Prime

Essa é mais que uma comédia romântica porque traz uma discussão interessante do cotidiano: as verdades dolorosas ou, poderíamos dizer, as mentiras bondosas. Julia Louis-Dreyfus, uma de minhas atrizes favoritas, interpreta Beth que tem um casamento feliz com Don, um terapeuta de casais, e faz o que gosta: dá aula de criação literária e escreve livros. Tudo muda quando ela ouve seu marido confessar para um amigo que ele não gosta do livro que Beth escreveu, embora tenha dito a ela que sim. A partir daí, muitas discussões sobre confiança, verdades e mentiras. As cenas das sessões de terapia de Don são carregadas de humor ácido. ‘Verdades dolorosas” prova que filme “ leve” não precisa ser sinônimo bobo.

 

 

SÉRIES

Sugar –  8 episódios – Apple TV

Essa é a primeira série dirigida por Fernando Meirelles nos Estados Unidos, onde já fez os ótimos “ O Jardineiro Fiel” e “Dois Papas”. O protagonista – vivido por Colin Farrel -é John Sugar, um  enigmático  detetive particular, contratado para investigar o misterioso desaparecimento de Olivia Siegel, a mais que querida neta do lendário produtor de Hollywood Jonathan Siegel , interpretado por James Cromwell. Durante a investigação, Sugar começa a descobrir segredos do passado guardados pela poderosa família Siegel.  O interessante é que Sugar é obcecado pela era de ouro de Hollywood e veste-se à moda dos anos 40/50, incluindo dirigir um antigo cadilac azul.
Meirelles fez questão de levar seu diretor de fotografia favorito, César Charlone, para essa nova empreitada.Os dois já fizeram outros trabalhas juntos, inclusive o icônico “ Cidade de Deus”. “ Sugar” tem tudo para ser um sucesso. A conferir.

 

Ripley –   08 episódios – Netflix

O personagem do romance de Patrícia Highsmith já rendeu ótimas versões para o cinema. Como esquecer o ambicioso Tom Ripley de Matt Damon em “ O talentoso Ripley”, de 1999? Agora, a Netflix traz a série – em preto e branco – recontando a história de Ripley, o homem contratado por um homem poderoso para trazer seu filho de volta para casa. Acontece que Ripley inveja a boa vida do playboy e quer ela para si. A partir daí, seguem-se fraudes, roubos e até mortes.

O novo Tom Ripley é vivido pelo irlandês Andrew Scott, conhecido por trabalhos como o vilão Jim Moriarty de ‘ Sherlock Holmes’ ,  que lhe rendeu o Bafta de melhor coadjuvante, e  na série“ Fleabag”.

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DESTAQUES NAS SALAS DE CINEMA

Em Florianópolis, o Cine Paradigma inclui dois filmes brasileiros em sua programação:

 

Domingo à noite – direção: André Bushatsky – 2024

Margot tem 75 anos e é uma das maiores atrizes do Brasil. Ela é casada há mais de 50 anos com Antônio, um escritor premiado e com Alzheimer avançado. Enquanto luta para manter a independência e cuidar do marido sozinha, ela enfrenta grandes dificuldades internas para finalizar seu último filme. Porém, ainda mais importante, ela luta para manter o amor deles vivo diante da falta de memória do marido. Ao descobrir que também tem Alzheimer, Margot precisará se reconectar com os filhos para poder morrer em paz. (veja o trailer)

No elenco: Marieta Severo e Natalia Lage

 

 

 

Uma Família Feliz – direção: José Eduardo Belmonte – 2024

Sinopse: Eva acabou de dar à luz o seu terceiro filho e se depara com a angústia de uma depressão pós-parto em meio a uma vida burguesa supostamente perfeita. O ar tranquilo de sua família feliz é invadido por acontecimentos estranhos quando suas filhas gêmeas aparecem machucadas. Eva é acusada e retaliada pela comunidade. Isolada e questionada por seu próprio marido, ela precisa superar sua fragilidade para provar sua inocência e reestruturar sua família.

No elenco: Grazi Massafera e Reynaldo Gianechini

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O SOM DAS TELAS

Nunca se sabe se dá para confiar nesses rankings, mas a música popular tida como a mais utilizada em filmes é ‘ U Can´t touch this’, de Mc Hammer. Lançada em 1990, a canção apareceu em pelo menos quinze filmes, como ‘ Natureza Selvagem’ ( 2007), Trovão Tropical (2008) e Gente Grande ( 2013).

O rapper norte-americano conquistou dois Grammys  com essa música e vendeu mais de quatrocentas mil cópias apenas nos Estados Unidos, levando o Disco de Ouro em sete países.

‘U Can´t touch this’ apareceu também nesta cena da série “ Glee- Em busca da fama”. Tente não se sacudir ouvindo (eu não consegui).

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*Fotos: Divulgação/Reprodução

 

THE END

 

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

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