Portal Making Of

Memória Controversa

Foto: UFSC / Crédito: Janine Alves

A eleição para o Diretório Central dos Estudantes da UFSC revisitou a memória controversa com relação ao primeiro Reitor da Universidade e o apoio à ditadura. Uma das chapas que concorre a eleição veio as redes sociais para contestar inclusive a manutenção de um monumento em homenagem a João Davi Ferreira de Lima no Campus de Florianópolis.

A herança do passado autoritário da ditadura militar ainda não foi superada no país e na UFSC. Impedida a prestação de contas a esse passado, ele permanece atravessando o presente e obstruindo o futuro. Na UFSC, a história da ditadura militar revela o apoio do primeiro reitor, João David Ferreira Lima, à “revolução” militar, destacando-se pelo respaldo ideológico às medidas de repressão e perseguição. Esse apoio é evidenciado pelo fato de que o próprio reitor nomeou uma Comissão de Inquérito para atender às demandas do AI-1, que resultou em uma intensa varredura sobre professores, estudantes e funcionários da universidade em busca de elementos considerados subversivos.

Além disso, a Lei Suplicy de 1964 conferiu à administração universitária da USC (como era chamada na época) poderes para fiscalizar e censurar atividades estudantis, controlar eleições e monitorar a distribuição de informações. A cumplicidade das autoridades da USC com o regime militar é enfatizada pelo fato de que o reitor acabou sendo homenageado pela Marinha em 1965.

Foto: Eleição para o Diretório Central dos Estudantes da UFSC / Crédito: reprodução.

A presença de um monumento em homenagem a João David Ferreira Lima na UFSC é emblemática por essa colaboração com o regime, que continua a ser parte da memória da universidade, mesmo que não seja um capítulo glorioso de sua história. As informações sobre o que aconteceu na UFSC constam em depoimentos e fontes primárias nos trabalhos da Comissão Memória e Verdade (CMV-UFSC), criada pelo Conselho Universitário, dando continuidade aos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade (CNV), em dezembro de 2014. O relatório final foi aprovado nesse Conselho, em setembro de 2018.

Abaixo, mais um de tantos outros relatos, feito por um aluno de engenharia da UFSC durante o regime militar com exclusividade à coluna:

“Lembro bem desse tempo. Na engenharia foram denunciados 18 alunos! Fiquei sob observação por 6 anos… na década de 70. Já formado e trabalhando, o patrulhamento aumentou.  Só me “esqueceram” a partir de 85″, confirma V.P.

Nesse breve relato, o horror de quem viveu os anos de ditadura militar e ainda hoje, quase quatro décadas após o fim desse período obscuro da história brasileira, ainda tem receio de colocar o nome completo para não sofrer novos ataques. Para quem pensa que é exagero, basta fazer uma breve retrospectiva sobre o saudosismo de parte da população brasileira declarado nas inúmeras manifestações por um novo golpe militar e pelo fim da liberdade em frente que aos quartéis e à invasão das sedes dos três poderes em Brasília em 8 de janeiro em pleno 2023. Além dos constantes ataques à UFSC e aos seus estudantes por membros da extrema-direita que persistem pelas redes sociais, provocações no Campus por um movimento político específico e em algumas colunas de jornal que generalizam para toda a Instituição a exceção.

Mas não se engane! Esse movimento é orquestrado, não é só contra UFSC, mas contra a educação e as instituições públicas de ensino, porque a educação liberta e proporciona perspectiva de ascensão social. Sim! A velha luta de classes ainda existe e persiste nas entranhas da sociedade que projeta o atraso e uma das piores fases da história do país. E das últimas notícias talvez a mais relevante seja essa: a UFSC conquistou a posição de quarta melhor universidade federal do Brasil, conforme o Shanghai Jiao Tong Academic Ranking of World Universities (ARWU), um ranking global que avalia as instituições de ensino superior em todo o mundo.

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

Compartilhe esses posts nas redes sociais:

Mulheres do Nosso Bairro

A crise levou empregos, negócios, oportunidades — e, como se não bastasse, trouxe para perto o fantasma da violência doméstica. Sim, o cenário é difícil. Mas a força feminina é muito maior! Mulheres Mulheres do Nosso Bairro é um projeto que acelera talen

Gargalhada Macabra

Mais de 604 mil mortes e 20 meses depois do início do pesadelo que está sendo a pandemia, o Congresso, que assistiu inerte e aos abusos e a enxurrada de notícias falsas que prejudicam o combate ao coronavírus, começou a leitura do relatório da CPI da Covi

Procurando emprego?

Empresas de tecnologia de SC abrem mais de 400 vagas de trabalho. A maioria das oportunidades são para home office.

Pode crer!

O programa oferece formação profissional para os jovens da periferia e mostra que eles são uma oportunidade para a cidade que carece de profissionais no setor de tecnologia. Então, vamos aproveitar esse capital social?

Crise hídrica! Vai faltar água?

O Brasil amarga a maior crise hídrica dos últimos 91 anos. Segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel, os reservatórios das regiões Centro-Oeste e Sudeste, atuam com apenas 23,01% de sua capacidade. Santa Catarina também segue em estado

Crise de desabastecimento! Vai faltar comida?

O Presidente Jair Bolsonaro afirma que o Brasil pode enfrentar crise de desabastecimento em 2022 por falta de fertilizantes. Segundo ele, um dos principais efeitos da falta de produtos, se nada for feito, será o aumento de preços, ou seja, mais inflação à

Ciência por um fio

A ciência está tão incorporada ao dia a dia que pode passar despercebida. O uso corriqueiro e cotidiano fazem da ciência “algo trivial”, porém quanto mais trivial for o uso, maior o impacto na vida das pessoas. Como seria viver nos dias de hoje sem a lâm

A Volta dos Espetáculos

Dos impactos da pandemia no segmento de shows e eventos ao primeiro evento oficial com público nos teatros estaduais do Estado.