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Anthony e seus demônios

Anthony e seus demônios
Anthony Hopkins em O Ritual

“Envelhecer não é para os fracos” ! Fiz uma pequena mudança na frase atribuída ora a Bette Davis, ora a Mae West. Hoje não cabe mais usar o adjetivo homofóbico original, então troquei para “fracos”. O que importa mesmo é a ideia:  precisamos ser fortes para enfrentar as perdas e as limitações que a velhice nos traz.

No rol das vicissitudes do envelhecimento estão as dores físicas. Num dia a gente está rindo da avó que reclama de dor no joelho, no ombro, nas costas…e no dia seguinte chega a nossa vez. Vemos nossa pele perder o viço, o cabelo rarear, o peso aumentar, enfim, uma sucessão de coisas indesejáveis. Mas nada disso é tão terrível como chegar na maturidade carregando “macaquinhos no sótão”, dores internas, coisas mal resolvidas.

Minha inspiração para essa conversa veio da pessoa que foi a grande surpresa na noite do Oscar domingo passado. Aos 83 anos, Anthony Hopkins, desbancou o favorito Chadwick Boseman e se tornou o homem mais velho a ganhar o prêmio de Melhor Ator. O galês já tinha recebido o prêmio pelo papel do serial killer  Hannibal Lecter em “O silêncio dos inocentes”, em 1992. Foi indicado ainda outras cinco vezes e é considerado pela crítica um dos maiores atores vivos.

Mas, não quero falar das glórias de Sir Anthony, e sim de sua maior conquista como ser humano. Vindo de uma infância problemática, considerado lento e chamado de burro na escola, ele cresceu revoltado. Abandonou o país de Gales e tudo o que ele representava. Ao alcançar a fama em Hollywood ele poderia ter simplesmente “dado uma banana” para quem o fez sofrer e seguir em frente. Mas, a cabeça da gente não funciona assim. Ele mesmo conta que bebia demais, tinha ataques de estrelismo no set, gritava com a equipe e, pior, abandonou sua mulher e a filhinha de apenas quatro meses.

Sim, um dos mais bem sucedidos artistas do mundo era infeliz e fazia os outros infelizes.

Aos 45 anos, depois de acordar num hotel sem saber como tinha ido parar lá, Hopkins parou de beber. Decidiu tratar a depressão e buscar as origens de tanta ira. Ele contou numa entrevista à The New Yorker que quando admitiu sentir medo conquistou uma liberdade maravilhosa.” Eu me sentia inseguro, paranoico, aterrorizado. Temia não servir para nada, não me encaixar em nenhum lugar”, confessou o ator. Para encarar seus fantasmas, retornou ao país natal, Gales, de onde fugira com a intenção de nunca mais voltar. Reencontrou suas origens, relembrou da infância e conseguiu dizer ao pai que o amava pouco antes de sua morte. Com a ajuda do amigo, o também grande intérprete Ian McKellen, resolveu até suas questões com Shakespeare e o teatro que havia rejeitado quando preferiu Hollywood.

Hoje, aos 83 anos, Anthony Hopkins parece finalmente em paz consigo mesmo e com o mundo. Não compareceu à cerimônia do Oscar para receber a estatueta pelo papel em “Meu Pai”, mas gravou um amável vídeo no jardim da casa galesa, agradecendo a honraria. Não deixou de homenagear também Chadwick Boseman, morto no ano passado.

A história de Hopkins mostra que para sair do inferno interior e dominar sua ira – às vezes alimentada durante décadas – é preciso encarar os próprios demônios. Todos que envelhecemos devíamos ter essa coragem. É a única de partir serenamente, sem deixar nada por resolver.

(Brígida De Poli)

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Meu pai – direção: Florian Zeller – 2020

O personagem que deu o Oscar a Anthony Hopkins traz o mesmo nome e a data de nascimento dele. O diretor, Florian Zeller, achou que a identificação daria ao ator a emoção necessária para viver um homem que enfrenta o Mal de Alzheimer. Ele é amparado pela filha, Anne, mas recusa todos os cuidadores propostos por ela. Quando ela decide se mudar para Paris com um novo amor, as coisas pioram.

Anne é vivida pela premiada Olivia Colman, ou seja, uma dupla de respeito. Zeller contou que só aceitava Hopkins no papel. Enviou o roteiro para ele em 2017 e a resposta só veio em 2020. Aliás, o roteiro levou o Oscar de Melhor Adaptação.

“Meu pai” está disponível nos lançamentos do Now/Net.

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OUTROS FILMES

Maratona Anthony Hopkins

Listei alguns trabalhos do ator disponíveis em streaming. Senti falta de alguns dos melhores filmes dele: Vestígios do Dia, Retorno a Howard´s End, O leão no inverno, O homem elefante e Nunca te vi, sempre te amei


Netflix

Dois Papas (2019)

O protetor ( 2016)

Dragão Vermelho (2002)

Missão Impossível 2 ( 2000)

Lendas da Paixão ( 1995)

 

Prime Vídeo

O fiel camareiro ( 2015)

Você vai conhecer o homem dos seus sonhos ( 2010)

O silêncio dos Inocentes ( 1991) MGM

 

Now/Net

Jogada de mestre (2015)

Red2 (2013)

O ritual (2011)

360 (2011)

O Lobisomem (2010)

A grande ilusão ( 2006)

O silêncio dos inocentes (2001)

Alexandre (2004)

A lenda do Zorro (1998)

Encontro Marcado (1998)

 

Drácula de Bram Stocker (1992)

 

SÉRIE

Anthony Hopkins não ficou fora das séries também. Fez a ótima ficção Westworld, disponível na HBO.

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À espreita do mal – direção: Adam Randall – 2020 –Netflix

Não leve em conta o título e o cartaz dessa produção. O filme é melhor que isso. É cada vez mais difícil causar alguma surpresa no público acostumado a filmes de suspense/terror. Mas esse consegue, razão pela qual não vou dar detalhes a respeito. A trama: após o desaparecimento de um garoto de 12 anos, um policial precisa investigar o caso e enfrentar sérios problemas conjugais com a esposa. A família vive momentos de grande tensão, além de ter que lidar com fatos estranhos que começam a acontecer na casa e colocam o filho do casal em perigo mortal. O nome mais conhecido do elenco é Helen Hunt (de “Mad About You” e “Melhor Impossível” , quase irreconhecível pela passagem do tempo e prováveis intervenções faciais.

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SÉRIES

Mare of Easttown – minissérie – HBO

O grande trunfo dessa minissérie é trazer Kate Winslet no papel de Mare Sheehan, uma detetive de Easttown, pequena cidade da Pensilvânia. Ela começa a investigar o assassinato de uma jovem, enquanto carrega o peso de não ter descoberto nada sobre o desaparecimento de outra garota local no passado. A vida pessoal de Mare é cheia de problemas e dramas e o mau humor constante da investigadora não ajuda em nada sua convivência com quem quer que seja.  Há apenas dois episódios disponíveis, mas parece interessante. A sinopse oficial da emissora descreve uma “exploração no lado escuro de uma comunidade fechada e uma examinação autêntica de como a família e tragédias passadas podem definir nosso presente”.



The Affair – 4 temporadas – Paramount/Net

Essa série já passou pela coluna há muito tempo, ainda na Netflix, mas como agora mudou de casa resolvi falar dela novamente. É um bom drama do mesmo criador de uma das minhas séries favoritas – Em Terapia – mostrando como um encontro casual pode mudar a vida dos personagens. É o caso do escritor Noah e da garçonete Alison durante as férias dele com a mulher e os filhos. Alison, uma mulher que carrega uma grande dor, e Noah vivem uma paixão avassaladora. Outros personagens que interferem na trama são o ex-marido de Alison e a família dele. Haverá uma morte nesse núcleo trazendo suspense à história.

Um aspecto interessante da série é que Noah narra o caso deles de um jeito e Alison conta a mesma coisa de outra. A cada episódio, temos as duas “ versões”.

As duas primeiras temporadas são as melhores, depois é bom diminuir um pouco as expectativas. A 5ª e última ainda não chegou ao Brasil.

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The end

(*) Fotos reprodução/divulgação

 

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