Portal Making Of

Sonhos de Natal

Sonhos de Natal

Sonhos de Natal

Entrei no site dos Correios para escolher algumas cartinhas – agora online – dirigidas ao Papai Noel. É assim: as crianças de creches e escolas públicas escrevem pedindo o que gostariam de ganhar de Natal. Os “papais noéis” escolhem e compram os presentes, deixando para entrega em alguma agência dos Correios.

Fui lendo e me surpreendendo com os desejos, digamos, sofisticados: boneca Barbie Sereia, casa da Barbie, patinente elétrico, patins, carros com controle remoto, Playstation, camisa oficial do Flamengo… Opa, como assim, garotada? São coisas muito caras, deviam ter pedido presentes mais em conta, pensei. Houve anos, quando as cartinhas ainda eram no papel, que doei material escolar, cesta básica, tênis e roupinhas, artigos úteis.

Refleti e senti uma certa vergonha. Por serem de famílias pobres não têm o direito de querer os brinquedos incríveis que a indústria cria todo ano? Elas estão sujeitas à publicidade, como as demais. Elas vêem outras meninas e meninos brincando com aquilo. Por que deveriam pedir carrinho de plástico e boneca do 1,99? E, na cabecinha delas, se o Papai Noel é uma entidade mágica, por que não poderia dar tudo que quisessem, sem ligar para orçamento?

Lembrei de um professor de Estatística (argh) dos tempos de faculdade que reclamou um dia na aula sobre “pobres ganharem dinheiro e, em vez de comprar leite, comprarem coca-cola”! Aquilo me incomodou de tal forma que ainda hoje, quarenta anos depois, não esqueci.

Voltando às cartinhas, havia também de adolescentes de abrigos sociais, pedindo maquiagem, perfume e roupa bonita. Uma mãe pedia um “brinquinho de semi-jóia” para sua bebê. Tudo tão natural, tão humanamente compreensível!

Deixei meu preconceito de lado e decidi que, se não posso atender vários pedidos por falta de recursos, posso realizar ao menos UM. Afinal, não cabe justamente a quem sabe como era mentir para as amiguinhas sobre presentes imaginários de Natal – proibidos de levar para a rua – colocar limites nos sonhos de uma criança.

_________________________________________________________________________

 

MICROCONTO DE DOMINGO

Desafio proposto pelo professor/escritor Robertson Frizero ao grupo do @literaturaminima: um conto em até 50 palavras, inspirado na foto de pessoas ao mar, buscando refúgio.

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

Compartilhe esses posts nas redes sociais:

Pensem nas crianças

[ad_1] Pensem nas crianças Hesitei antes de entrar em um assunto que é grande demais para caber numa simples crônica. Todavia, as lembranças de Radwan,

Rimando humor com horror

[ad_1] Cena de M.A.S.H, 1970 / reprodução Por uma dessas coincidências, a atriz Sally Kellerman, morreu na semana em que assistimos o início da Guerra

Lúcidas e válidas

[ad_1] Lúcidas e válidas Um dia desses conversava com minhas amigas sobre como percebemos os primeiros sinais de não sermos mais jovens aos olhos dos

Uma crônica bem sincera

[ad_1] Uma crônica bem sincera Nove pessoas e meia entre cada dez dão a mesma resposta àquelas enquetes sobre qual qualidade mais admiram em alguém

Chegadas e partidas

[ad_1] Penélope Cruz e Milena Smit em Madres Paralelas/ divulgação Uma chegada: enfim, chega à Netflix, o mais recente filme de Pedro Almódovar, “Madres Paralelas”. Apesar

“Melhor morrer que não ser famosa”

[ad_1] Escuto muito que assistir BBB emburrece, gente inteligente não assiste etc… Discordo. Um programa que confina humanos num mesmo espaço durante meses, gera ótimo