Por coincidência vi a série “ Alasca- Em busca da Notícia” ( Star+) e o encerramento de “ Succession”( HBO) na mesma semana. Ambas falam de jornalismo, mas em patamares tão distantes quando Anchorage está de Nova York.
Se, na aclamada série sobre a família Roy, estamos falando da grande mídia, capaz de eleger um presidente fascista, onde irmãos e agregados digladiam para ser o sucessor, na outra temos o jornal Alaska Daily, lutando para manter as portas abertas.
Quando a jornalista Eileen Fitzgerald, vivida pela oscarizada Hilary Schwanke, chega ao Alasca depois de anos sem conseguir trabalho por ter sido “cancelada” e demitida de um grande jornal novaiorquino, ela dá de cara com uma redação que funciona na sala de um shopping. A equipe é pequena, mas aguerrida. A ríspida Eileen é destacada para cobrir a falta de interesse da polícia em investigar o desaparecimento de uma jovem nativa. Tendo como parceira outra jornalista local, Eileen começa a descobrir que há vários casos de desaparecimento e assassinatos de jovens nativas na região. A reportagem fictícia foi inspirada em um projeto real feito pelo Anchorage Daily News e ProPublica que investigou os diversos casos de assédio sexual a mulheres no Alasca.
A série é bem feitinha (VEJA O TRAILER) e levanta temas importantes como maior ou menor empenho das autoridades e da própria imprensa, dependendo da classe social e etnia da vítima. Aborda também a extinção dos jornais tradicionais com a expansão das redes sociais e da mídia digital. Estão na trama os dramas pessoais, como o da protagonista que mantém distância do ambiente caloroso da redação ou da jovem repórter que sofre ao ver uma vida destruída pela denúncia que publicou. Infelizmente, a série não foi renovada e ficaram algumas pontas soltas que seriam amarradas na segunda temporada.
Habemus sucessor !
Juro que não vou dar spoiler, pois você pode não ter visto ainda o episódio final da série mais aclamada do ano. Mas, posso contar que, sim, já há um(a) sucessor(a) para o império do patriarca Logan Roy.
No domingo (28), noite do gran finale, fiquei lembrando que na primeira temporada eu tentava conversar sobre a qualidade da nova série da HBO e poucas pessoas estavam ligadas nela. “Succession” foi realmente descoberta pelo público quando veio a segunda temporada. E aí, foi prêmio atrás de prêmio.
A última temporada colocou “Sucession”, definitivamente, na minha lista das dez mais. Existem os motivos óbvios: o elenco espetacular, onde a cada episódio eu me comprometia a torcer no Emmy por um ou outro. Meu xodó mais recente é o Kieran Culkin, o filho do meio de Logan Roy, mas eu preciso falar da sequência entre Sarah Snook (a Shiv Roy) e Matthew McFayden (o marido dela, Tom) no 8° episódio, em que eles se dizem as piores coisas que um casal pode jogar na cara um do outro. Quando acabou o duelo verbal, eu estava sem fôlego. Que interpretação, senhoras e senhores ! Ah, rendo homenagens também a Alan Ruck, vivendo o filho mais velho e ilegítimo, Connor. Finalmente consegui vê-lo para além do garoto hipocondríaco de “Vivendo a vida adoidado”. Bem, eu poderia encher telas e telas sobre atuações na série, incluindo o elenco de apoio.
Outro fator importantíssimo para o sucesso do seriado é a trama bem amarrada da disputa pelo poder e pelo amor paterno que, no caso, é quase a mesma coisa. O bom e velho Shakespeare não decepciona nem quando serve de inspiração.
Mas, vou contar a vocês o que realmente me arrebatou nas quatro temporadas de “Succession”: o texto. Os diálogos são incríveis, fugindo da armadilha da pieguice e da busca por lágrimas fáceis, tão comuns à cinematografia norte-americana. Tenho me irritado cada vez mais com diálogos em filmes e séries que desdenham da inteligência do telespectador. Chorei poucas vezes durante o desenrolar de “Succession”, mas me apiedei dos personagens em diversos momentos e sempre tive a sensação de algo apertando minha garganta ao final de cada episódio.
Não sei se todo mundo vai gostar do desfecho mais aguardado do ano, mas a gente nunca concorda mesmo com finais [ vide Os Sopranos], né? Minha tese é que, no fundo, não há final que compense a ideia de separar-nos daquela gente toda que acompanhamos, torcemos, amamos, odiamos, durante quatro anos. Quando eles partem, nos sentimos um pouco órfãos.
Para quem ainda não viu ou quiser rever: as quatro temporadas estão disponíveis na HBO/HBO Max.
E para encerrar que tal o tema musical de “Sucession”? Outro trunfo da série. Vale a pena ouvir de novo e de novo.
Succession acabou. E agora ?
- Para nós, os órfãos da série, restar torcer que a novidade da HBO para as noites de domingo (estreia 04/06), seja tão boa quanto a anterior. Trata-se de “The Idol”, nova produção de Sam Levinson, criador da elogiada Lily-Rose Depp ( sim, ela filha de Johnny Depp e da belíssima Vanessa Paradis) interpreta uma jovem cantora que tenta recuperar a fama e acaba se envolvendo com um empresário de passado obscuro. Mesmo antes de estrear, a série já causava polêmicas por denúncias de abusos durante as gravações. Golpe de marketing ? Não sei
- O que se sabe sobre os novos projetos dos brilhantes protagonistas da série:
Jeremy Strong ( Kendall Roy) estará nos palcos na Broadway na nova versão de Um Inimigo do Povo, peça escrita pelo norueguês Henrik Ibsen em 1882. Ele também tem duas minisséries engatilhadas. A ver.
Brian Cox ( Logan Roy) está com a agenda cheia de novos trabalhos, entre eles o drama familiar Skelly e as comédias The Parenting, da HBO, e The Glove. Um dos trabalhos mais aguardados é em The Electric State, nova empreitada de ficção científica dos irmãos Anthony e Joe Russo.
Kieran Culkin ( Roman Roy) conseguiu tornar-se o irmão famoso de Maccaulin Culkin com “ Succession”. Agora ele vai participar do longa A Real Pain, com Jesse Eisenberg, que dirige a comédia dramática.
Sarah Snook ( Shiv Roy) está no terror psicológico australiano Run rabbit run. Poderemos matar as saudades da caçula dos Roy no dia 28 de junho, na Netflix.
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OUTROS ADEUSES DA SEMANA
- Os encanadores da Casa Branca teve seu último episódio disponibilizado pela HBO Max esta semana. A minissérie tragicômica reconta a tentativa desastrosa de grampearem o escritório do Partido Democrata durante as eleições americanas, que ficou conhecida como o escândalo Watergate, e acabou na renúncia do presidente Richard Nixon. Muitos filmes e séries já exploraram o caso, mas dessa vez a abordagem é do ponto de vista dos criminosos trapalhões. Na liderança estão Woody Harrelson e Justin Theroux.
- A 23ª edição de The Voice – USA , acabou esta semana como começou, sem muito alarde. O reality musical que já venceu mais de 40 prêmios, incluindo o Primetime Emmy e o People’s Choice Awards foi transmitido este ano pelo canal E!. Talvez esse tenha sido um dos motivos da baixa repercussão dessa temporada que marcou a despedida do jurado mais popular da história do The Voice, o artista country Blake Shelton. Carismático e divertido, Blake foi o técnico que mais orientou cantores e cantoras vencedores da competição. Foram nove campeões. Ele estava no júri desde a primeira edição e disse que não foi fácil tomar a decisão de abandonar o programa que mudou sua vida para melhor. Entre outras coisas, foi ali que ele conheceu sua mulher, a cantora pop Gwen Stefani. É claro que o último episódio rendeu homenagens a Blake Shelton, com uma apresentação coletiva de todos os artistas que venceram pela sua mão nesses 23 anos. A NBC já anunciou que agora a quarta cadeira será ocupada pela superestrela country, Reba McEntire.
- Para surpresa de muitos, inclusive minha, a temporada derradeira de Blake Shelton não lhe rendeu o 10º título. Ele era técnico com maior números de finalistas, mas sua candidata ficou em segundo lugar. O técnico estreante Niall Horan, ex- One Direction, foi o mentor da grande vencedora da edição, a jovem Gina Miles, de dezenove anos. Blake brincava que Niall era seu filho e sucessor no reality, deve ter deixado sua sorte de herança. Seja como for , The Voice USA nunca mais será a mesmo sem o divertido e simpático cowboy e seu gesto inesquecível quando pedia para algum candidato escolhê-lo como mentor.
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THE END