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Cuidado com o pescoço, o Conde está vivo!

Jaime Vadell em " O Conde" (Foto: Divulgação/Pablo Larraín)

Aproveitando os 50 anos do golpe militar que depôs o presidente Salvador Allende no Chile e a ascensão do ditador Augusto Pinochet, a Netflix lança uma de suas principais produções do ano. O Conde é uma sátira de terror sobre a figura do sanguinário general chileno e sua família. Mas, o prestigiado diretor Pablo Larraín (Neruda, No, Spencer, Jackie) teve o cuidado de não transformar o vampiro Pinoche em um personagem simpático ou trapalhão. O humor no caso é muito sombrio, ajudado pela fotografia em preto e branco e pela trilha sonora. No início há um histórico do mal no mundo, mas agora o conde está chegando aos 250 anos e quer morrer. Sua mulher é contra, pois teme perder poder com a morte do marido e os filhos também chegam à casa paterna preocupados não com sua saúde, mas com a herança.

Tudo muda com a vinda da jovem Carmen, que chega à mansão como uma contadora que vasculha os podres financeiros da família, mas na verdade é uma freira exorcista. Outro personagem importante é o fiel assistente do general, Fyodor Krassnoff, também vampiro, que mantém uma relação íntima com a mulher do ditador. O sobrenome entrega que ele é inspirado no braço direito do real Pinochet. Krassnoff foi responsável por milhares de execuções e pessoas torturadas durante o auge da ditadura chilena. Ele foi aquele que recebeu o maior número de condenações entre os comandantes da ditadura mais violenta da América Latina.

O filme torna-se mais interessante para quem conhece a história do país vizinho, mas a metáfora é bastante clara para todos. O pior de tudo é a ideia de que o ditador está morto, mas sua herança vive como os vampiros: eternamente.

O elenco é muito competente, principalmente Paula Luchsinger, como a religiosa Carmen, mas há nomes bem conhecidos do cinema chileno como Jaime Vadell ( Pinochet) e Alfredo Castro (Fyodor).

 

 

Mais da história do Chile nas telas

Massacre no estádio –Direção Bent-Jorgen Perlmutt – 2019- Netflix

Setembro de 2023 marca também os cinquenta anos do assassinato do grande cantor, compositor, professor de teatro e poeta chileno, Victor Jara. O regime militar usou o Estádio Nacional do Chile –  entre 11 de setembro a 09 de novembro de 1973- como campo de detenção, tortura e morte. Mais de doze mil presos políticos foram detidos sem acusações ou ações judiciais. Um dos assassinados foi Victor Jarra, considerado perigoso pelo regime por suas canções de protesto. Ele tornou-se símbolo de resistência e suas canções , como “Te recuerdo Amanda” e “ Duerme negrito” foram eternizadas na voz de Mercedes Sosa.  Somente em 1990, o Estado chileno, por meio da Comissão da Verdade e da Reconciliação, reconheceu que Víctor Jara havia sido assassinado a tiros no dia 16 de setembro de 1973. Tinha 40 anos quando seu corpo foi jogado em um matagal. Os levantamentos históricos falam em 3.200 mortos e desaparecidos durante a ditadura no Chile.

 

Chile, 1976 – direção: Manuela Martelli – 2023 – Netflix

O ano de 1976 foi um dos mais sangrentos da ditadura do general Augusto Pinochet. Na história, Carmen é uma dona de casa que vive a placidez da vida burguesa de classe média. Um dia ela recebe o apelo do padre da família para que esconda, por piedade, um refugiado político em sua casa de praia.

 

No – direção:  Pablo Larraín – 2012 –  Netflix         

Em 1988, o ditador Augusto Pinochet é forçado a convocar um plebiscito em sua presidência, devido à pressão internacional. O país votará SIM ou NÃO em Pinochet para estender seu governo por mais oito anos. Os líderes da oposição convencem um jovem e impetuoso executivo de publicidade a liderar a campanha do NO. Com poucos recursos e mesmo sofrendo ameaças dos militares, René Saavedra – interpretado por Gael Garcia Bernal – e sua equipe planejam um plano audacioso para vencer a eleição e libertar o Chile do sanguinário Pinochet. Esse foi o filme que chamou atenção para o talento do diretor Pablo Larraín que hoje atua em Hollywood e acaba de entregar “ O Conde” (veja na abertura da coluna).

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Extra pauta

Filmes

Cavalos Selvagens – direção: Marcelo Piñeyro – 1995 – Netflix

Do Chile para a Argentina: excelente ideia da Netflix disponibilizar esse clássico de nossos hermanos. Um velho anarquista entra num banco disposto a recuperar o dinheiro que lhe foi roubado. O jovem atendente entende errado e acaba servindo de refém para o cliente. Os dois saem em fuga e o filme vira um adorável road movie, onde o rapaz alienado enfrenta conflitos com o homem mais velho que tenta ensinar-lhe como funciona o sistema e porque é contra ele. No caminho vão sendo ajudados por pessoas que os viram na televisão e são a favor do que a mídia apelidou de “Os indomáveis”. Nos papéis principais estão Hector Altério, um dos mais importantes atores da história do cinema argentino, e o então novato, Leonardo Sbaraglia, hoje um dos nomes de ponta da sétima arte argentina ( atuou inclusive em “Dor e Glória”, de Pedro Almodóvar).

 

80 for Brady: Quatro amigas e uma paixão – direção: Kyle Marvin – 2023 – Paramount +

O mais interessante dessa comédia é o elenco: Jane Fonda, Lily Tomlin, Sally Fiel e Rita Moreno. Elas formam um grupo de amigas na faixa dos 80 anos que têm um amor em comum: o futebol americano e o jogador Tom Brady ( ex-marido de Gisele Bundchen). O quarteto resolve fazer uma viagem para ver seu ídolo jogar no Super Bowl. O filme é baseado em fatos. Um bom passatempo.

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Séries

Viúvas de quinta-feira – minissérie –  2023 – Netflix

Em 2009, o mesmo Marcelo Piñeyro dirigiu o filme “Las viudas de los jueves”, baseado no romance de Claudia Piñeiro. Curiosidades:  no elenco está Ernesto Altério, filho de Hector Altério, e Leonardo Sbaraglia, quatorze anos mais velho e mais interessante que em “Cavalos Selvagens”.

Bem, agora as “Viúvas de quinta-feira” volta em forma de minissérie. Infelizmente, a produção não é argentina, mas mexicana. A trama mostra a história de um grupo de mulheres que encontra seus respectivos maridos mortos na piscina do condomínio de luxo onde vivem e decidem abrir uma investigação, mantendo muitos segredos ocultos. A polícia informa que a morte deles foi acidental, porém Teresa, uma das mulheres e as outras viúvas não acreditam nisso e desconfiam que haja muito mais por trás da tragédia e decidem investigar por conta própria. A conferir.

Em tempo: O filme de 2009 continua disponível na Netflix.

 

Tokyo Vice –  08 episódios – 2022 – Star+

Enquanto a aguardada segunda temporada não chega, dá para ver ou rever a ótima primeira. Criada por J.T. Rogers e baseada em um livro dele mesmo, “Tokyo Vice” se passa em 1999 e acompanha o jornalista americano Jake Adelstein que resolve trabalhar em um grande jornal japonês. Olhado com estranheza pelos colegas por ser o único estrangeiro da equipe, Jake começa a investigar o perigoso submundo do crime da cidade. Ele firma uma parceria com o detetive japonês Hiroto Katagiri,  interpretado por Ken Watanabe. No papel de Adelstein está o carismático Ansel Elgort.

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NÃO PERCA!

Começou ontem, 21, e segue até o dia 27 de setembro, o  FAM – Festival Internacional de Cinema Florianópolis Audiovisual Mercosul. Serão exibidos noventas filmes e ainda haverá oficinas, mesas, encontros e atividades do setor audiovisual.

Veja a programação aqui https://www.famdetodos.com.br/programacao

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*Fotos: Divulgação/Reprodução

THE END

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