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O tempo e a traça

O tempo e a traça

Dando um tempo no formato temático de Cine & Séries, mas garantindo a leitura semanal para quem segue a coluna. Toda sexta-feira,  uma nova “Crônica em Quarentena” e, claro, dicas de filmes e séries para amenizar esses tempos difíceis de pandemia e isolamento social. Fiquem bem!

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O tempo e a traça

Já filosofamos bastante na coluna sobre o tempo que passa, voa, não para. Em 2020 é como se ele tivesse sido sugado por um buraco negro! Nunca a expressão “parece que foi ontem” fez tanto sentido.

Parece que foi ontem que me vesti, coloquei brincos e passei batom para ir ao lançamento do livro de um amigo. Lá encontrei outros amigos queridos a quem beijei e abracei sem temor. Era 13 de março de 2020 ! Onde foram parar os últimos oito meses? Quando a pandemia acabar (amém!) ficará sempre uma área nebulosa, como se esse tempo não tivesse existido.

Tenho ouvido queixas dos mais velhos sobre o tempo de vida restante ser curto demais para se perder um ano inteiro. Ouço também os jovens reclamando que logo agora no auge da mocidade é injusto não poder aproveitar a vida em sua plenitude.

Não posso ser juíza dessa contenda. Teria que me declarar impedida de julgar por ser parte dos querelantes. No máximo posso sugerir empate, em solidariedade aos jovens que têm pressa.

Sendo bem Pollyana – a personagem tirada do livro de Eleanor H.Porter que virou símbolo de otimismo- será que estamos mesmo “perdendo” tempo? Ou ganhando a chance de vivê-lo de outra forma, sem tanta sofreguidão, superficialidade ou indiferença? Não sei. São apenas reflexões permitidas pelo fato de eu…ter tempo para pensar. Ai, agora deu um nó!

Melhor encerrar por aqui, não sem antes falar dos versos que têm me perseguido quando abordo a passagem do tempo (Bodas de Prata, Aldir Blanc e João Bosco): “…é o tempo, Maria, te comendo feito traça num vestido de noivado”.  Pronto, para justificar o título, “matei” a Pollyana que habita em mim. Coisas de cronista com dificuldade de achar o encerramento do texto.

(Brígida De Poli)

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DICAS & DICAS

FILMES

O Homem Invisível – direção: Leigh Whannell – 2020 (Telecine)

Eu queria muito ver esse filme e não me decepcionei. É um ótimo suspense protagonizado pela Elizabeth Moss ( de Mad Men e O Conto de Aia), em outro trabalho primoroso. O Homem Invisível é uma produção que reconta uma história baseada no personagem de H.G. Wells. Tudo começa com uma mulher fugindo do noivo abusivo, um brilhante cientista. Depois de muita angústia, ela recebe com alívio a notícia da morte dele. Paro por aqui para não prejudicar o suspense.

ALERTA SPOILER: O trailer “entrega” quase toda a trama, então decida se quer ver mesmo.

 

A Difícil Arte de Amar – direção: Mike Nichols – 1986 ( Prime Vídeo)

Tem filmes que gosto e não recomendo aqui porque acho que todo mundo já viu. Mas me dei conta que muitos espectadores/leitores sequer tinham nascido na época de lançamento. É o caso desse filme que reúne Meryl Streep e Jack Nicholson( na foto). Primeiro é preciso ignorar o tolo título em português. No original é “Heartburn” ( que pode ser traduzido por azia….). O livro/filme é uma espécie de vingança de Nora Ephron ( hoje reconhecida diretora de cinema) ao marido, o prestigiado jornalista Carl Bernstein, do caso Watergate. Quando se conheceram ela escrevia sobre gastronomia e era avessa à ideia de casamento, mas foi convencida por ele a juntarem as escovas de dentes. Casamento realizado e harmonioso, ela grávida do segundo filho, descobre a traição do marido com amiga do casal. O filme é bem leve e irônico e , de quebra, tem a adorável canção “Coming around again” de Carly Simon.

 

Bronx – direção: Olivier Marshal – 2020 (Netflix)

Para quem gosta do gênero, um policial clássico com muito enfrentamento entre polícia e bandidos ( e policiais bandidos!), “Bronx”  ( gíria francesa para uma situação complicada) mostra que o cinema francês está cada vez mais ” americanizado”.  Um esquadrão anti-gangues enfrenta narcotraficantes árabes e corsos na violenta cidade de Marselha. O líder do grupo é Vronski, um chefe sempre disposto a proteger seus policiais subordinados. O elenco é bom e, entre muitos mortos e feridos, a história explora também o lado emocional de quem enfrenta a violência todos os dias. A primeira cena já mostra que a película não está para brincadeira.

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SÉRIES E MINISSÉRIES

Carmel- Quem matou Maria Marta ? – Doc – 2020 (Netflix)

A Netflix oferece várias opções para quem curte documentários de investigações criminais. Agora é a vez da minissérie argentina que conta a história do assassinato de uma mulher de classe alta dentro de um condomínio de luxo. Primeiro dado como acidente, onde Maria Marta teria batido a cabeça na pia, depois a descoberta de seis balas na cabeça. Os suspeitos são da própria família, mas até hoje, passados cerca de 20 anos, e vários julgamentos nada foi suficientemente esclarecido.

 

The Hour –  BBC –  2011  – (TNT Series)

Um ótimo retorno ao Now é esta série britânica que mostra os bastidores de um telejornal no final dos anos 50. O pano de fundo são as mudanças sociais da época, o que inclui a primeira produtora mulher de um programa da BBC. As questões políticas e os romances entre os jornalistas da emissora também fazem parte da trama.

 

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Born to Fashion – Reality Show – Canal E!

Esse reality passou quase “batido”, embora a proposta fosse inovadora e de potencial polêmico. O formato não é exatamente novo, jovens que desejam seguir a carreira de modelo passam por treinamento e testes. A diferença é que no caso de “Born to Fashion” todas as concorrentes são mulheres transexuais. Depois da primeira peneira, sobram 10 candidatas até o final. Uma delas será escolhida para ser a nova top model.

No início algumas figuras podem causar estranheza, mas aos poucos é bonito ver como elas vão aprendendo a desfilar, posar e a se tornarem mais seguras. Também contam suas histórias familiares e as dificuldades de aceitação pela sociedade. A apresentação  é da bela e simpática Laís Ribeiro, modelo da Vitoria Secret´s, ao lado de um maquiador e duas experts na moda. Há também convidados de peso como Alexandre Hertchcovith.

Um programa onde, no mínimo, se aprende muito sobre a condição de ser trans num mundo onde o diferente nem sempre é aceito.

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INDICAÇÃO  DO LEITOR

THE WITCHER – 1 TEMPORADA – NETFLIX

Jaqueline  de Oliveira sugere:

Sinopse: Geralt de Rivia (Henry Cavill) é um solitário caçador de monstros, que luta para encontrar seu lugar num mundo onde pessoas são mais crueis que criaturas. Mas seu caminho irá cruzar com duas figuras que mudarão sua vida: a feiticeira Yennefer de Vengerberg (Anya Chalotra) e a princesa poderosa Cintran Ciri (Freya Allan). (Adoro Cinema)

Obs: A gravação da 2ª temporada foi suspensa há alguns dias por terem detectado pessoas da produção com Covid-19. Mas vai sair.

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ADEUS A PINO SOLANAS

A Covid-19 parece desgostar especialmente de artistas e pensadores. Semana passada levou mais um: o diretor Fernando Solanas, um dos cineastas que ajudou a colocar o cinema argentino no mapa. São dele “Tango – o exílio de Gardel” (1985) e “Sur” (1988) e “Memória del saqueo”, apresentado no Festival de Cinema de Berlim em 2004, quando recebeu o Urso de Ouro pelo conjunto da obra.

Para Pino, seu apelido, filmar era um ato de resistência e cidadania. Ele esteve exilado na França durante a sangrenta ditadura argentina. Acabou morrendo, aos 84 anos, em Paris para onde tinha voltado como Embaixador da Argentina na Unesco.

Infelizmente  “Sur” está disponível no YouTube, em cópia ruim e sem legendas. Mesmo assim, vale conferir nem que seja para curtir a música maravilhosa de Astor Piazzolla. Também é possível ver ” A Nuvem” (1988) no YouTube, com melhor qualidade de imagem, mas também sem legendas.

Aqui, dá ver um trecho recuperado de “Sur”.

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EL FIN?

(*) Fotos reprodução/divulgação

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

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