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Obrigada, Papai Noel dos cinéfilos

Obrigada, Papai Noel dos cinéfilos
Foto: iStock

Fui reler a coluna do natal passado (aqui) antes de escrever esta. Cheguei à conclusão que, comparando com 2020 – ano da chegada da pandemia e do consequente fechamento dos estúdios – até que 2021 não foi tão ruim, embora longe do ideal.

Eu pedira ao Papai Noel que reabrissem as salas de cinema. Era triste ver as imagens das poltronas mofadas e da tela vazia ao redor do mundo. Ele me atendeu em parte, as salas de exibição foram abrindo aos poucos este ano, o público é que anda hesitante. Tinha pedido também para ver o curta-metragem de Pedro Almodóvar, A voz humana, em tela grande. Vi na pequena e me conformei, de tão lindo que é.

No geral, entre retomadas e paralisações temporárias de algumas produções, consegui ver bons filmes e séries em 2021. Agradeço a Papai Noel e aos serviços de streaming por isso. Listei alguns de memória, mas devo ter esquecido outros. Digam quais seus favoritos também.

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Filmes que alegraram meu coração em 2021

A voz humana – direção: Pedro Almodóvar – 30 minutos

O diretor espanhol filmou seu primeiro trabalho em inglês durante a pandemia. É um curta de trinta minutos, baseado na peça de Jean Cocteau. Almodóvar, que não é bobo, escolheu para esse monólogo a britânica, Tilda Swinton. Ela é a mulher que espera a ligação do ex-amante no apartamento onde viveram durante alguns anos. Foi deixada para trás, junto com o cachorro do casal. Que texto, senhores, que interpretação, que direção!

 

Ataque dos cães – direção: Jane Campion

Procurei saber o mínimo possível sobre o novo filme da diretora neozelandeza antes de vê-lo e isso ajudou no impacto que me causou. Faltando poucos dias para o final de 2021, posso cravar que foi o melhor que vi este ano. História triste, instigante, tendo o mundo do western como pano de fundo, mas focado no drama e no suspense; fotografia exuberante e atuações espetaculares. Dona Jane voltou com tudo, depois de ficar muitos anos sem filmar. Tenho certeza que vou vê-la no Oscar, junto com o elenco nominado. Amém.

 

Judas e o Messias Negro – direção: Shaka King

A produção é de 2020, mas só foi lançado no Brasil em 2021. É baseado na história real de Fred Hampton, um dos líderes do movimento Pantera Negra, na luta pelos direitos dos negros nos EUA, nos tumultuados anos 60. O “Judas” é Bill O´Neil, um informante negro, infiltrado no movimento pelo FBI. O desfecho é daqueles que nos deixa indignados, querendo participar da luta. Hampton é interpretado por Daniel Kaluuya, confirmando ser um dos melhores atores de sua geração. Não por acaso foi o ganhador do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante pelo papel.

 

Marighella – direção: Wagner Moura

A exibição de Marighella apenas no finalzinho de 2021, é emblemático do que o cinema brasileiro vem sofrendo nos últimos anos. O lançamento deveria ter acontecido em 2019, mas a Ancine não aprovou, alegando entraves burocráticos. O filme também foi vítima de um mutirão de apoiadores do governo para o avaliarem mal no IMDb (Internet Movie Database), por motivos não cinematográficos, mas ideológicos. Inspirada na biografia do escritor, político e guerrilheiro, Carlos Marighella, considerado um dos principais organizadores da luta armada contra o regime militar no Brasil, a película revoltou os defensores da ditadura. A polêmica também se deu em outros aspectos, como a escolha de Seu Jorge para o papel-título. Ah, Marighella era mais claro etc… foram algumas críticas.

Afora as polêmicas, Wagner Moura demonstrou ser um ótimo diretor e, quando entrou em exibição, o filme tornou-se sucesso de público.

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Séries e minisséries

Missa da meia-noite – criação:Mike Flanagan- 7 episódios

Este foi um ano de boas minisséries de terror, como The Third Day (HBO), com o Jude Law, e Them (Prime). Essa do Mike Flanagan foi uma boa surpresa (Netflix). Ela mostra um jovem padre chegando a uma ilha, onde a religiosidade predomina. Fatos estranhos começam a acontecer e há um confronto de forças. Não é de muito impacto visual, mas de densidade psicológica. Gostei.

 

Mare of Easttown – 7 episódios – HBO

A britânica Kate Winslet é uma daquelas atrizes que não se importa de fazer personagens sem glamour. Nessa minissérie ela é uma detetive dura e amargurada pelo suicídio do filho. Mare começa a investigar o assassinato de uma jovem mãe, juntamente com seu novo parceiro. Ela evolui na investigação, mas sua vida pessoal desmorona.

 

Manhãs de setembro – 5 episódios – Prime

O Brasil produziu boas séries este ano. Gostei dessa, com a cantora Liniker, interpretando Cassandra,  uma mulher trans que se vê diante de um filho pré-adolescente, gerado num encontro casual do passado, justamente quando ela está conquistando sua liberdade. Há notícias que vem uma segunda temporada.

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Novas temporadas

The Crown – 4ª temporada

Quando uma série vai bem na primeira temporada, a gente teme pela segunda, depois pela terceira… mas, The Crown conseguiu manter a qualidade nesta 4ª temporada. É quando entra em cena a figura icônica da princesa Diana. Dizem que a abordagem desagradou muito a família real britânica. Em 2022, chega a 5ª e, talvez, a derradeira temporada sobre a saga dos Windsor. Imagino se os produtores não estão contando com o falecimento da rainha Elizabeth, próxima dos 100 anos, para dar o fecho ideal a uma das séries mais bem sucedidas da história.

 

Succession – 3ª temporada

Outra daquelas que todo mundo esperava que tivesse a mesma qualidade da temporada anterior. E teve. A terceira não decepcionou os fãs que só descobriram a potência da série na segunda temporada. A família Roy está cada vez pior – no bom sentido – e a briga pelo controle do império midiático só aumentou. O primogênito Kendall resolveu encarar a ira do pai e brigar pelo poder. Mas, alguém pode superar o terrível patriarca? No fundo, trata-se menos da disputa pelo império e mais pelo amor paterno. Não por acaso, Succession se inspira na obra de Shakespeare.

 

Em Terapia – 1ª temporada da nova fase

Quando li que Em terapia, uma de minhas séries favoritas, ia trocar Gabriel Byrne, o Dr. Paul Weston, por Uzo Aduba, duvidei do resultado. Me preparei para não gostar, mas acabei curtindo demais a nova temporada de conversas entre terapeuta e pacientes. Para mim, Uzo funcionou bem, com outro jeito mais empático de tratar os pacientes, enquanto lida com os próprios demônios. Uma jovem órfã criada pela avó, um ex-empresário preso por corrupção e um rapaz latino, cuidador do filho de uma família muito rica, são os personagens que sentam semanalmente diante da Dra. Brook Taylor para falar de suas neuras. Ah, curti muito também o figurino da Uzo (nada a ver, eu sei…)!

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Decepções

Minhas decepções ficaram mais pelo que não chegou! Duas de minhas séries favoritas, Peaky Blinders e Maravilhosa Mrs.Maisel não tiveram novas temporadas em 2021. Culpa das idas e vindas da Covid-19. Ambas estão prometidas para 2022. A de Peaky Blinders, infelizmente, deve ser a derradeira. A saída de Cilliam Murphy, o protagonista, do elenco e a morte de Helen McCrory, que fazia a tia Polly, colaboraram para o fim da série.

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Tristezas

Foram muitas as perdas para o cinema em 2021. Quase no final do ano, partiu a diretora italiana, Lina Wertmuller (Pasqualino sete belezas, Mimi, o metalúrgico e Por um destino insólito), uma de minhas favoritas na vida (foto). Mas, o cinema perdeu também outros dois grandes diretores, o inglês Michael Apted (A montanha dos gorilas) e o francês, Bertrand Tavernier (Por volta da meia-noite).

Dois atores importantes que nos deixaram este ano: Christopher Plummer, canadense que brilhou em Hollywood desde A noviça rebelde (1965) e atuou até os últimos momentos de sua vida, quando morreu aos 92 anos; e o francês Jean-Paul Belmondo, famoso pela obra-prima de Jean-Luc Godard, Acossado, e por muitos filmes de ação, morreu aos 88 anos.

Duas atrizes maravilhosas também partiram: a veterana Olimpia Dukakis,aos 89 anos, Oscar de Melhor Coadjuvante por Feitiço da lua, enquanto Helen McCrory (Harry Potter e Peaky Blinders) foi cedo demais, aos 52 anos.

O Brasil perdeu três ícones do cinema e da TV em 2021: Eva Wilma, Paulo José e Tarcísio Meira. Não foi pouca coisa.

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Meu sapatinho na janela

Deixei de novo meu sapatinho ( n°39, cabe bastante coisa !) na janela, com um bilhete:

Querido Papai Noel,

Agradeço os presentes que o senhor me deu este ano. Peço agora que as salas de exibição se recuperem totalmente e que tenhamos mais filmes de qualidade. Que a cultura volte a ser valorizada no Brasil, principalmente o cinema nacional que anda tão maltratado. Gostaria também que os serviços de streaming respeitassem mais os assinantes e parassem de postar séries pela metade ou sem legendas. E, claro, o senhor sabe que eu pediria isso também: vida longa e profícua a Pedro Almodóvar!

Obrigada, abraços cinéfilos.

p.s.: Ajude também a pararem de roer pipocas e balas durante a exibição.

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THE END

* Fotos reprodução/divulgação

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