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Pagando mico por aí

Pagando mico por aí

Estava organizando fotos de viagem quando me deparei com imagens que só a síndrome de turista pode justificar! Nem sei se existe o termo, mas o que somos capazes de fazer quando viajamos de férias deveria ser analisado à luz da psicologia ou sociologia, sei lá. Quando nos afastamentos do nosso “habitat natural” parece que soltamos a trava do bom comportamento e da sobriedade.

Quem é aquela mulher simulando que dança tango com um bailarino argentino no Teatro Piazzolla de Buenos Aires? Ou aquela que joga moedinhas na Fontana de Trevi, em Roma, fazendo caras e bocas em gestos slow? Vou fingir que não conheço.

É a mesma que aparece em fotos pegando a mão de Fernando Pessoa, em frente ao café A Brasileira, em Lisboa, conversando com o poeta como se ele estivesse realmente ali e que também se abraçou com a estátua de Astor Piazzola em um bar de La Boca.

Quem nunca enfiou a cabeça em um painel com corpos pintados em roupas folclóricas ou pousou ao lado daqueles corações I love … a cidade tal, que atire a primeira pedra!

Sobre essas imagens ainda temos algum controle, basta guardar no fundo da gaveta e não postar na internet, mas e aquelas de “turista acidental”, como escreveu Romano Affonso de Sant´Anna? Fui fotografado à minha revelia, em frente a um templo egípcio no Metropolitan Museum de Nova York. (…) Assim, um sem- número de vezes em frente ao Coliseu, nas ruínas de Machu Pichu, perto da Torre de Londres, junto à Catedral de Colônia, sobre as pedras da Acrópole, em Atenas, nas mesquitas de Istambul e, evidente, em Juiz de Fora. Guardado estou  em álbuns japoneses, italianos, americanos,alemães, franceses ,argentinos, senegaleses, disperso, desatento como se aquele corpo não fosse meu (…) Ninguém, reunindo as fotos, perguntará:

-Quem é este constante figurante  no flagrante do alheio instante?(…)

A recíproca é verdadeira: já repararam ao fundo das fotos que vocês clicaram quantos “turistas acidentais” aparecem? Tenho a minha favorita: uma senhorinha espanhola, sentada ao meu lado em um banco de praça de Barcelona. Apelidei-a de Doña Amparo. Ela nem imagina que sua terna figura está na parede de uma casa brasileira.

Para encerrar: se vocês esperavam que eu fosse ilustrar esta crônica com minhas fotos de dançarina de tango ou outras tão embaraçosas quanto, esqueçam! Aqui, não sou turista. Sou uma senhora discreta e uma respeitável cronista deste Portal. Aham…

[Brígida De Poli]

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