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O inferno dos outros

O inferno dos outros

“O inferno são os outros” talvez seja a frase mais popular de Jean-Paul Sartre. Escreveu o filósofo e escritor francês: “ninguém precisa de grelhas, o inferno são os outros”. Repito esta máxima cada vez que meu vizinho ouve funk, em alto volume, durante horas. Como agora, enquanto tento me concentrar para escrever esta crônica.

Meu sobrinho também sofre com a moradora de cima que costuma passar o aspirador de pó na casa em momentos impróprios, como domingo bem cedinho. Quem não esbraveja quando alguém estaciona mal e ocupa duas vagas na garagem lotada. Enfim, o outro inferniza a nossa vida.

Agora, responda rápido: quem é o outro do outro? Não, não pirei, leitor. A conclusão é óbvia, nós somos o inferno alheio.

“Como assim, colunista? Eu não faço nada para incomodar!”. Ah, se parar para pensar achará alguma coisa.  Eu encontrei várias. Assim, como o meu vizinho funkeiro, não exagero no volume quando ouço as árias cantadas pela Maria Callas? “Ah, mas são tão lindas, quem não ia gostar de ouvir?”. À noite, quando vejo filmes, o grau do áudio que começou em seis, subiu para dez ou doze com o passar dos anos.

Certamente tenho muitas outras atitudes irritantes, mas não vou contar.  Só queria trazer à baila uma certa incapacidade nossa de trocar de posição com o outro. A tão falada, mas pouco exercitada, empatia. É mais fácil transferir a culpa para os outros sempre.

E aí, gostaram da minha análise madura sobre tolerância? Agora, com licença, vou lá gritar “abaixa essa m…”, antes de fechar a janela! Brincadeirinha, leitor, brincadeirinha. Vou apenas fechar a janela.

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Desafio do coletivo Literatura Mínima (@literaturaminima): miniconto em 50 palavras.
Tema: Como diz o ditado Arte e mentoria: Robertson Frizero (@clubedecriacaoliteraria)

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